Há alguns dias, o Banco Itaú inaugurou o grupo das instituições que dizem que o Brasil vai entrar em recessão em 2022, fechando o ano com uma queda de 0,5% do PIB. É uma posição ousada, já que o mercado vem estimando um crescimento tímido acima de 1%. Em três semanas, o prognóstico do boletim Focus, do Banco Central, caiu 23%, indo de 1,57% de alta do PIB em 2022 na metade de outubro para 1,2% na primeira semana de novembro.

Mesmo considerando essa perspectiva mais otimista, o Brasil tem previsão de registrar o segundo crescimento mais baixo da América do Sul no ano que vem. Na Argentina, mesmo depois da eleição deste mês, o prognóstico é de alta de 4% do PIB e 2022. O Chile, que passa por uma reestruturação institucional, vai crescer 11% em 2021 — e vai desacelerar para 2% no ano que vem. O crescimento colombiano ficará entre 3% e 4%, enquanto o do Equador ficará em 2,6%, segundo a Cepal. São taxas parecidas às previsões para Bolívia e Paraguai. A perspectiva brasileira só é melhor que a da Venezuela.

O pior é que já há quem diga que até mesmo a economia venezuelana dará sinais de recuperação. Com a alta esperada da produção e venda de petróleo em 2021, consultorias locais chegam a apontar uma possível alta do PIB do país para o ano que vem, que seria a primeira desde 2014. Se assim for, o Brasil ocupará o posto tão gritado por Bolsonaro na sua campanha eleitoral, e será, enfim, perfeitamente uma Venezuela.

Isso é possível por uma série de fatores. A ameaça fiscal manifesta semanalmente pelo presidente e por sua equipe econômica afetam no preço do dólar, consequentemente na inflação que, por sua vez, impacta com força na renda das famílias. Esse ciclo ainda se completa com o aumento do desemprego e da informalidade e, assim, do endividamento. Isso tudo sem contar, de um ponto de vista menos alinhado ao mainstream econômico, que, embora o governo queira aumentar os necessários programas de transferência de renda, o faz não a partir de um planejamento de longo prazo, mas apenas como decisão momentânea. Não à toa que muitas das mudanças na lei são feitas por decreto.

Para 2022, tudo deve piorar. Além do cenário já adverso, ainda vão entrar na conta as incertezas da crise chinesa, a retirada da liquidez em dólar pelo Banco central dos EUA e a eleição presidencial. Tudo isso na contramão dos vizinhos sul-americanos. O Brasil é hoje um gigante à deriva.