Os fãs brasileiros que forema aos cinemas para assistir ao aguardado Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore verão um rosto conhecido ao lado dos astros Jude Law e Eddie Redmayne: a atriz Maria Fernanda Cândido interpreta a bruxa Vicência Santos em mais um filme de sucesso do universo de Harry Potter, um dos personagens mais populares da história do cinema mundial. Ver uma brasileira em Hollywood é algo cada vez mais comum. Maria Fernanda havia dado o primeiro passo nessa direção ao participar do longa italiano Bastardi a Mano Armata (2021), do italiano Gabriele Albanesi. Com esse novo filme, no entanto, ela passa a integrar a lista de atores brasileiros com destaque em superproduções no exterior.

Esse enredo começou em 1940 com Carmen Miranda, que, embora tenha nascido em Portugal, fez carreira no Brasil. Ela atuou em Serenata Tropical, grande sucesso da 20th Century Fox. O longa fazia parte da “política da boa vizinhança” do governo de Franklin D. Roosevelt, estratégia que previa investimento em parcerias culturais com latino-americanos para evitar que os países da América do Sul se aliassem a Adolf Hitler no período pré-Segunda Guerra. O episódio acabou virando um problema, uma vez que Carmen projetara uma imagem caricata do País, com sua sensualidade vazia e fantasias com bananas na cabeça. Para ela, porém, foi ótimo: mudou-se para os EUA e fez fortuna – basta lembrar que, em 1945, foi a atriz mais bem paga do ano nos EUA.

Em 1962, O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França. Foi só em 1985, no entanto, que a atuação de um brasileiro, ou melhor, brasileira, seria de fato reconhecida: Sônia Braga, elogiada por sua performance em O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco. Quatro anos depois, ela seria indicada ao Globo de Ouro pelo papel na comédia Luar sobre Parador, de Paul Mazursky. Era o início de uma incrível trajetória internacional: em 2020, o jornal The New York Times apontou Sônia em sua lista dos 25 melhores atores do século 20. A vocação para o sucesso internacional está na família: sua sobrinha, Alice Braga, também coleciona uma série de participações em produções internacionais, de filmes para a TV americana a séries produzidas visando ao streaming. Em 24 anos de carreira, ela atuou em mais produções estrangeiras que nacionais. Trabalhou ao lado de grandes astros, com Will Smith, Matt Damon e Jodie Foster, e se especializou em personagens de filmes de ação e ficção científica, gêneros pouco abordado por cineastas brasileiros. Seu próximo papel será em Esquadrão Suicida, onde interpretará Sol Soria, líder de um exército de rebeldes. Outra brasileira que brilhará na terra do cinema será Bruna Marquezine. Seu nome foi confirmado no elenco de Besouro Azul, da DC Comics.
Em Elysium (2013), Alice Braga esteve ao lado de Wagner Moura, outro brasileiro com forte presença no exterior. Após o sucesso de bilheteria em Tropa de Elite, o ator partiu para uma bem-sucedida temporada internacional. Brilhou nos longas Wasp Network (2019) e Sergio (2020), cinebiografia da Netflix sobre o diplomata Sergio Vieira de Mello, morto em um atentado no Iraque. Na ocasião, Moura ainda não se sentia confortável em falar outra língua que não fosse o português. Mesmo assim, focou no exterior. “Esse filme faz parte de um projeto mais ambicioso de produzir conteúdo nos EUA sobre personagens latinos que não reforcem estereótipos”, afirmou. O papel levou ao convite para interpretar o traficante colombiano Pablo Escobar na série Narcos, também da Netflix. Seus próximos projetos incluem a série Shining Girls, na Apple TV+, e o longa Civil War, de Alex Garland, em que contracena com Kirsten Dunst.

Rodrigo Santoro integrou o elenco das séries Lost e Westworld e fez pequenos papéis em Simplesmente Amor (2003) e 300 (2006). Mas foi após interpretar o amante de Jim Carrey em I Love You, Phillip Morris, em 2009, que passou a ser visto como uma grande estrela latino-americana em Hollywood. Em 2020, foi aplaudido no set de filmagem pelo desempenho como o vilão Biggie em Project Power, segundo revelaram os colegas Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt. Santoro diz que não separa o cinema brasileiro e internacional. “A estrada é uma só, com terrenos diferentes e línguas diferentes. Meu olhar está mais na história, no personagem, independentemente do idioma. O importante não é ser brasileiro ou estrangeiro. São as pessoas, os projetos”, conclui.

Os atores americanos que se cuidem.

Eles também chegaram lá