Mídia do país europeu destaca escolha do general Braga Netto como candidato a vice de Bolsonaro e a aposta do presidente nas redes sociais para tentar se reeleger. Desigualdade social em São Paulo também é tema.Süddeutsche Zeitung – O presidente e seu general (29/06)

Jair Bolsonaro está muito atrás nas pesquisas – mas em vez de lutar por mais votos, ele aposta em velhos aliados: os militares.

No final das contas, chegou a ser uma surpresa ruim para os críticos de Jair Bolsonaro, mas ainda há um mau pressentimento: no domingo, o presidente do Brasil anunciou que queria fazer de Walter Braga Netto seu candidato a vice nas eleições de outubro. O general é aliado próximo de Bolsonaro e já trabalhou no atual governo, inclusive como ministro da Defesa. Walter Braga Netto era, portanto, considerado por muitos como a escolha lógica para o cargo.

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Nenhum outro presidente na história recente do país teve laços tão estreitos com as Forças Armadas quanto ele. Antes de se tornar político, o próprio Jair Bolsonaro foi capitão dos paraquedistas. Mais tarde, quando era deputado, sempre quis estar próximo dos militares. E como presidente, ele finalmente colocou mais militares em cargos civis do que qualquer outro eleito democraticamente antes dele. Vários membros do gabinete eram da ativa ou ex-militares e já atualmente o vice-presidente de Bolsonaro é um general.

Essa proximidade historicamente levantou preocupações sobre o papel e o poder das Forças Armadas no Brasil: pouco mais de 30 anos se passaram desde que o Brasil voltou à democracia após uma sangrenta ditadura militar. Até hoje, esse capítulo da história do país foi processado de forma incompleta; os círculos conservadores glorificam esses tempos como décadas de ordem e progresso. O presidente Jair Bolsonaro também elogiou consistentemente a ditadura, e seu futuro candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto, descreveu recentemente o golpe de 1964 como um passo importante na história do Brasil, que serviu para “restabelecer a ordem” no país.

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Tudo isso causa preocupação entre os críticos do presidente do Brasil. Porque enquanto seus números nas pesquisas permanecem consistentemente ruins, Jair Bolsonaro vem criticando o sistema eleitoral no país de forma cada vez mais explícita: os eleitores no Brasil votam em urnas eletrônicas. Especialistas independentes as classificaram como amplamente confiáveis, mas Bolsonaro teme manipulação. Se ele não ganhar a votação de outubro, o presidente disse que provavelmente será porque houve fraude. “Surgiu uma nova classe de ladrão, que são aqueles que querem roubar a nossa liberdade”, disse Bolsonaro em um evento há algumas semanas. “Se precisar, iremos à guerra.”

No entanto, não é mais apenas o presidente que semeia dúvidas sobre o sistema eleitoral: membros do Exército também criticam o sistema publicamente com cada vez maior frequência. E mesmo que os militares do Brasil não estejam fechados com Jair Bolsonaro, cada vez mais observadores estão se perguntando o que aconteceria se o país passasse por uma situação como a dos EUA em janeiro do ano passado, quando apoiadores do então presidente Donald Trump invadiram o Congresso. Na época, Bolsonaro foi um dos poucos políticos no mundo que não condenou imediatamente esse ataque. Há poucos dias, ele mesmo alertou sobre uma “tragédia”: “Todo mundo sabe o que está acontecendo.”

Der Spiegel – São Paulo, a sombria Nova York do sul (26/06)

Com mais de 22 milhões de habitantes, São Paulo é a maior metrópole do Hemisfério Sul, a mais rica da América Latina – e uma das mais desiguais do mundo. Em nenhum outro lugar a miséria e o luxo existem em uma simultaneidade tão monstruosa, e o desespero dos pobres e a indiferença dos ricos colidem tão brutalmente. Milhares de multimilionários vivem em São Paulo. A expectativa de vida na rica e branca Pinheiros é de mais de 80 anos, em comparação com apenas 58 nos bairros negros mais pobres. Os paulistas abastados gostam de chamá-la de Nova York do Hemisfério Sul. Para os mais pobres, a cidade é um monstro impiedoso que ameaça devorá-los a qualquer momento.

Os helicópteros decolam em São Paulo a cada minuto. Diz-se que a cidade tem a maior frota privada de helicópteros do mundo, para as pessoas importantes que precisam ir de A a B rapidamente. Os restaurantes estrelados ficam perto dos bairros de mansões arborizadas, cujas ruas se chamam Alemanha, Luxemburgo e Áustria e são trafegadas por Bentleys e Rolls-Royces. Os brancos que aqui moram pouco são vistos, ou apenas pelos seguranças abrigados em pequenas guaritas em frente a paredes de metros de altura e funcionários negros que, em roupas de trabalho, passeiam com labradores cor de cobre e pelos brilhantes bem escovados. De vez em quando, passa um entregador de comida de chinelos e de bicicleta alugada, que provavelmente entrega uma refeição que vale seu salário de uma semana.

São Paulo é uma distopia, a sociedade aqui não fracassou em possibilitar que todos vivam com dignidade. A dissonância resultante disso é superada por meio da desumanização radical.

Deutschlandfunk – Estratégia de mídia de Bolsonaro: YouTube e WhatsApp como apoio eleitoral (22/06)

Já na última eleição, em 2018, a desinformação via WhatsApp foi a ferramenta de campanha preferida de Bolsonaro. Cerca de 120 milhões de pessoas no Brasil – quase metade da população – usavam o aplicativo na época. Os eleitores foram bombardeados com informações falsas por meio de grupos de WhatsApp. Uma investigação do The Guardian descobriu que a grande maioria da desinformação compartilhada favoreceu Bolsonaro.

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O canal de Bolsonaro no YouTube acumula até 30 milhões de visualizações por mês. Seu ódio a esquerdistas, homossexuais, a população indígena do Brasil e minorias em geral é perfeitamente compatível com o sistema de recomendação da plataforma de vídeos.

Em 2019, os repórteres do New York Times Max Fisher e Amanda Taub investigaram a responsabilidade do YouTube na eleição de Bolsonaro. Para respaldar com dados a tese da radicalização algorítmica, os dois recorreram à Universidade Federal de Minas Gerais, que analisou milhares de transcrições de vídeos. Os pesquisadores descobriram que os canais de direita do YouTube no Brasil cresceram mais rapidamente do que outros. À medida que a popularidade de Bolsonaro começou a diminuir nas pesquisas, as apresentações positivas em relação a ele no YouTube aumentaram.


Assim como o Twitter foi o maior meio de recrutamento de Trump, especialmente para a invasão do Capitólio, para Bolsonaro, eles são o Youtube e o WhatsApp, onde ele agora vem constantemente acusando uma iminente manipulação eleitoral. O que acontecerá se ele perder a eleição de outubro depois de meses manipulando continuamente parte da população brasileira com desinformação? A jornalista brasileira Patricia Campos Mello descreve assim: “É como um golpe em câmera lenta”.


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