Merece ser comemorada a aprovação em segundo turno, pela Câmara dos Deputados, da PEC do Teto dos Gastos Públicos, na terça-feira 25. Trata-se, sim, de uma pílula amarga, mas ninguém apresentou aos brasileiros um remédio mais agradável de ser digerido e que tenha a capacidade de recolocar o País nos trilhos. Mesmo os grupos que há poucas semanas saíram das urnas eleitorais derrotados por goleada e insistem em se contrapor à PEC não apresentam uma alternativa viável. Está-se, portanto, diante de uma oposição rancorosa, que em nada contribui para que o Brasil saia do atoleiro e que não se envergonha de empunhar e ostentar a bandeira do “quanto pior, melhor!” Como fez o eleitor, a imensa maioria dos deputados ignorou a gritaria desafinada e votou a favor do comprimido tão amargo quanto necessário. Agora, a receita do ministro Henrique Meirelles e sua equipe segue para a aprovação do Senado, onde a princípio não deverá encontrar resistências maiores. No entanto, nem tudo o que saiu do Legislativo na semana passada deve ser aplaudido.

editorial

O destempero do presidente do Congresso, Renan Calheiros, que ao criticar uma operação da Lava Jato no interior do Senado tratou como “juizeco” um magistrado de primeira instância, em nada contribui para a formação do consenso tão necessário para que o Brasil supere sua crise. Renan pode até ter recebido o apoio dos colegas da Câmara Alta, mas desencadeou um conflito com o Judiciário, posto que, como era natural, a ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, saiu em defesa do juiz e de seus pares. O episódio fez com que Michel Temer passasse a articular um jantar reunindo os presidentes do Legislativo (Renan) e do Judiciário (Carmen Lúcia). Em um primeiro momento, a líder do Supremo recusou o convite, pois essa semana deverá julgar processo que afeta Renan diretamente. Depois ficou acertada uma reunião para que as arestas fossem aparadas. É certo que o presidente do Senado tenha todo o direito (e até o dever) de protestar contra uma atitude do Judiciário que considere usurpação de poder. No caso, aliás, tudo indica que o senador pode até ter acertado nos motivos, visto que na quinta-feira 27 o ministro Teori Zavaski tornou sem efeito as investidas na Lava Jato no Senado. Renan, no entanto, errou na forma e com isso gerou um ambiente ruim para o Legislativo, para o Executivo, para o Judiciário e para o País. Ao fustigar uma crise entre poderes, Renan acaba fornecendo munição à turma do “quanto pior, melhor!”. Nesse momento, o que o Brasil mais exige de seus líderes é serenidade para que o País possa caminhar para o fim da crise. Que a convergência seja a meta e que o “quanto pior, melhor!” ocupe seu lugar à margem da história, como já definiu o eleitor em todo o País.

Foto: AÌlton de Freitas/Ag. O Globo