Damares Alves pode, pessoalmente, gostar que meninas vistam roupas cor-de-rosa e meninos, azuis. Pode, também pessoalmente, querer chamar as adolescentes de princesas. Damos, aqui, esses exemplos porque foram falas em vídeos que tiveram grande repercussão nacional e fora do Brasil. Como ministra, no entanto, Damares deve se ocupar de questões bem mais relevantes, coisa que não fez até agora – fatos e assuntos relacionados aos direitos humanos, que necessitam de constante atenção, estão sob sua responsabilidade. Tudo que diz respeito à República tem de ser cuidado por ela, independentemente de suas predileções, idiossincrasias ou ideologia. O princípio republicano exige de forma legítima a impessoalidade, princípio esse que a ministra vem desprezando em sua função – e, em decorrência, ficam abandonados graves acontecimentos que dela deveriam receber maior atenção. Por que ficam esquecidos? Simplesmente porque Damares não gosta dos temas.

O Brasil atravessa um período no qual os direitos humanos são violados com maior frequência, e tal fenômeno se dá desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República (lembrem-se de que ele vive elogiando torturador). A inação de Damares a torna conivente. Nos últimos dias, mais uma vez o País foi destaque na mídia internacional de forma deplorável. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, o Brasil é o lugar no qual mais se matou indivíduos trans em todo o mundo ao longo de 2021 – foram, pelo menos, cento e quarenta homicídios. O relatório apresentado pela associação aponta que “a cada dez assassinatos de pessoas trans no mundo, quatro ocorreram no Brasil”.

Mais: do total de quatro mil e quarenta e dois homicídios de trans, praticados entre 2009 e 2021, mil quinhentos e quarenta e nove deram-se em Pindorama – 47% cometidos com o agressor portando arma de fogo. Ainda assim, o presidente Bolsonaro, seus filhos e os gatos pingados de seguidores ideológicos ou fisiológicos persistem no propósito de liberalizar ao extremo o porte e a posse de armas e municiar a população. Um dado ainda mais estarrecedor: 24% dos assassinatos carregaram o ódio que se vê em linchamentos e ocorreram por meio de apedrejamento. Sim, voltamos aos tempos em que adúlteras e prostitutas eram condenadas à morte por lapidação. Voltamos à barbárie, voltamos à incivilidade.

Além disso, os pobres + pretos + periféricos são mortos em todo o território nacional, por milicianos ou agentes do Estado, tal qual moscas transmissoras de doença. Qual é a enfermidade? É reivindicar democracia social e direitos civis.Tudo isso é da competência do Ministério dos Direitos Humanos. Mas Damares, a sua titular, nada vê e nada faz.