Os números mais recentes do Ibope, divulgados no domingo passado, comprovaram, mais uma vez, que, em condições normais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é praticamente imbatível. Tem no mínimo 35% das intenções de voto, mesmo sendo alvo de uma caçada judicial jamais vista na história do País.

No campo conservador, os partidos convencionais se mostram incapazes de produzir um adversário competitivo. A aposta mais recente desse laboratório político é o apresentador Luciano Huck, que também não empolga. Uma sondagem do instituto Paraná Pesquisas indica que 60,4% dos brasileiros são contrários a seu ingresso na disputa presidencial.

Nesse cenário, as forças que lideraram o golpe parlamentar de 2016 ainda guardam na manga a cartada do tapetão judicial, que consiste em carimbar em Lula uma condenação em segunda instância, para que ele não possa concorrer. É uma estratégia, obviamente, de altíssimo risco.

Uma inabilitação só ocorreria às vésperas das eleições, quando Lula, vitimizado, estaria em condições de, novamente, eleger um poste. Com seu “dedazo”, poderia indicar um futuro presidente, que, ao contrário dele próprio, ainda não teria sido testado e aprovado.

Desde que o ódio foi plantado no Brasil, os partidos de centro-direita, que se associaram à fracassada ponte para o futuro de Michel Temer, minguaram. Quem floresceu foi a direita radical e, hoje, quem mais se aproxima de Lula, ainda que tenha apenas 15% no Ibope, é o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Essa nova polarização passou a alimentar o mito de que o Brasil terá, em 2018, uma eleição entre extremos. A tal ponto que o prefeito de São Paulo, João Doria, passou a defender uma frente ampla de centro para combater o suposto risco representado pelos dois líderes nas pesquisas.

O grande erro dessa análise, no entanto, é trivial: ela desconsidera que quem melhor representa o centro político no Brasil é o próprio Lula. A experiência de seus oito anos de governo comprova que ele sempre atuou como um fator de contenção de atritos entre as classes sociais e promoveu um ciclo de desenvolvimento em que todos progrediram. Tanto ricos como pobres, embora esses tenham maior gratidão e também uma melhor compreensão da falência do sistema político brasileiro e da importância de Lula para conduzir o País a um novo ciclo de paz e progresso.

O Brasil atual se vê, portanto, diante de um impasse. De um lado, estão as forças políticas que plantaram ódio e colheram Bolsonaro. De outro, o campo popular que enxerga em Lula uma possibilidade de reconstrução e reunião nacional. Os mais engajados na destruição ainda manterão a aposta no tapetão.

Os mais sagazes já se aglutinam em torno de Lula, que, no momento certo, saberá reconquistar o centro. A única saída sensata para o Brasil de hoje é a reconciliação entre a elite, que conduziu o País ao abismo, e Lula, que, coincidência ou não, ao encerrar a etapa mineira de sua caravana, estendeu a mão e disse perdoar os golpistas.