Nesta altura está mais ou menos claro que, se tiver oportunidade, Jair Bolsonaro dará um golpe. E na sua estratégia autoritária as polícias estaduais são um ingrediente indispensável. Bolsonaro e seus ideólogos trabalham para conquistar a alma da polícia e atraí-la para seu projeto de poder.

O afastamento do cargo do coronel Aleksander Lacerda, chefe do Comando de Policiamento do Interior-7, em São Paulo, pelo governador João Doria é só a parte mais visível desse fenômeno. Lacerda foi dispensado por indisciplina depois de fazer uma convocação, pelas redes sociais, para as manifestações que Bolsonaro pretende promover no dia 7 de setembro. Ele também fez críticas ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ao STF e ao próprio Doria. O governador foi cirúrgico e cortou o mal pela raiz.

Mas o problema de fundo persiste. Muitos policiais são seduzidos pelo discurso ultradireitista do presidente e podem ser atraídos pela perspectiva de poder ditatorial que ele oferece e por ganhos salariais e outros benefícios.

Em reunião do Fórum dos Governadores, hoje, para debater a defesa da democracia, Doria alertou para o risco de politização da polícia, para o aumento da insubordinação e para eventuais motins. “Creiam, isso pode acontecer no seu estado. Aqui nós temos a inteligência da Polícia Civil, que indica claramente o crescimento desse movimento autoritário para criar limitações e restrições, com o emparedamento de governadores e prefeitos”, disse.

O fato é que o plano macabro de Bolsonaro para conquistar o poder absoluto envolve a conquista das forças policiais, que atuam localmente e, na visão maquiavélica do presidente, podem ser mais fáceis de manobrar do que o Exército.

Sempre que pode, Bolsonaro faz média com a polícia, apoiando motins, como fez no Ceará, e elogiando medidas repressivas em manifestações contra o governo. O objetivo é influenciar a corporação com suas idéias extremistas. Nos seus devaneios de terror, ele sonha com um país militarizado, com a polícia descendo o cassetete em quem fizer manifestações democráticas ou antifascistas e calando a boca de quem se opuser ao seu projeto criminoso.

Mas esse pesadelo não deve se realizar. Os governadores estão atentos, assim como os prefeitos, a Justiça, os empresários, a maior parte dos cidadãos brasileiros e inclusive a maioria dos policiais, que não vai entrar na ladainha de um presidente alucinado. Apesar da tensão do momento, no final da história, em vez de golpe, Bolsonaro vai dar com os burros n’água.