Considero Sergio Moro um herói. Imperfeito ou não, em sua atuação como juiz na Lava Jato, o paranaense foi o único brasileiro vivo, capaz e corajoso o suficiente para trancafiar alguns dos mais poderosos políticos e empresários corruptos deste pobre País.

Muitos o consideram um péssimo ex-magistrado e condenam veementemente seus métodos de julgador. Outros, ainda, o acusam de tentar destruir a política e de ter atirado o Brasil em uma recessão, após a derrocada das maiores empreiteiras da nação.

Pessoalmente, não possuo conhecimento jurídico o suficiente para cravar A ou B na questão, mas considero uma baita inversão de valores acusá-lo de atentar contra a política e a economia. Ora, ele atentou contra a criminalidade incrustada nestes universos interligados.

MINISTRO

Acredito ter sido uma péssima escolha sua decisão de participar do governo. Porém, creio que tenha sido genuinamente bem intencionada e sem propósitos políticos. Penso que Moro mirava muito mais o STF, como futuro, do que a Presidência da República.

Na minha opinião, o ex-juiz demorou muito para sair da enrascada em que se meteu. Os exemplos de péssimo comportamento ético, além de atos e palavras preconceituosas e homicidas, proferidas por Bolsonaro e boa parte de seus colegas ministros, eram gritantes.

Para mim, isso manchou sua imagem e, de certa forma, o tornou, digamos, um político comum, e não mais um herói acima do bem e do mal. Aliás, para quem já não cultiva mitos e messias, isso não deixa de ser um ganho, pois desnuda uma pretensa superioridade moral.

PRÉ-CANDIDATO

A filiação de Sergio Moro ao Podemos e os consequentes movimentos políticos dão a entender que, ao menos por ora, a disputa da Presidência, em 2022, está no radar do ‘marreco’. Se irá se sustentar e se será viável, só os próximos meses poderão dizer.

Mas é fato que tal possibilidade mexeu um pouco com o modorrento e desanimador, ou melhor, desalentador cenário eleitoral, onde um ex-presidiário e um homicida, ambos autocratas, despontam como francos favoritos a continuar a destruição sistemática do Brasil.

Moro surge forte nas pesquisas; possui baixa rejeição, se comparada com a do meliante de São Bernardo e do patriarca do clã das rachadinhas; é visto como alguém de centro ou centro-esquerda e carrega a inexorável marca da honestidade sincera e comprovada.

ELEIÇÕES

Não me enche os olhos a possibilidade de Sergio Moro ser o próximo presidente da República. Primeiro, acho muito difícil que vença. Segundo, não o vejo como alguém capaz – e capacitado – para nos tirar do atoleiro em que o devoto da cloroquina nos enfiou.

Por óbvio, se o cenário não se alterar e nenhum outro nome melhor (ou menos pior) surgir e for viável, serei Moro Futebol Clube com fervor. Aliás, sem fervor! Prefiro deixar este belo sentimento para, como dizem petralhas e bolsominions, ‘destilar meu ódio’.

Contudo, ainda que a possibilidade seja muito pequena, aqui e ali, Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, e Lula da Silva, o chefe da quadrilha do petrolão (segundo o MPF), ensaiam, vez ou outra, um discurso de abandono da disputa. Difícil! Muito difícil, mas não impossível.

BOLSOPETISMO

Por fim, não deixa de ser cômica a verossimilhança – mais uma! – entre fanáticos extremistas do lulopetismo e do bolsonarismo. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, também conhecida por Coxa e Amante, nas planilhas de propina da Odebrecht, chamou Moro de ‘agente da CIA’.

Por sua vez, para não deixar barato e responder na mesma faixa intelectual, Ricardo Salles, o ex-ministro incendiário, enrolado com contrabando de madeira ilegal na Amazônia, um bolsonarista-raíz, disse que o Sergio Moro é, claro!, comunista, hehe. Super original, não?

A mistificação e burrice de ambos não são novas e fazem parte do DNA dessa gente pequena. Porém, reforça que os dois lados da brutalidade acusaram o golpe, e talvez não sejam tão fortes assim. Como diria Tino Marcos a Galvão Bueno: ‘sentiu’. Ou melhor, sentiram.