Na contramão de tudo o que o governo de Jair Bolsonaro diz e faz em relação às demandas ambientais, o principal banco de desenvolvimento do país, o BNDES, decidiu financiar projetos de empresas alinhadas a essas preocupações.

Mais do que isso, a primeira etapa do programa é destinada, justamente, para segmentos que estiveram nas páginas policiais dos jornais recentemente, como o de madeira para reflorestamento — que ajudou a derrubar o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ao todo, a instituição financeira vai despejar R$ 1 bilhão no fomento a essas práticas ambientalmente responsáveis.

Para o ambiente de negócios do País, a mensagem do BNDES se alinha ao que o mundo inteiro vem discutindo desde o início da pandemia, e que entregou fama ao conceito de ESG. Isso ficou muito forte em dezembro passado, quando Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos de investimento do mundo (com cerca de US$ 7 trilhões em ativos), enviou uma carta aos CEOs das empresas que fazem parte da sua cartela de clientes anunciando que pararia de investir em todos aqueles que não tinham projetos sustentáveis ou, mais do que isso, não apresentavam nenhum “propósito”.

No Brasil, até agora essa demanda estava toda sobre o mercado privado, embora o mundo inteiro esteja de olhos atentos ao que a economia brasileira pode fazer com o ESG. Mas há um elemento político também, já que o programa do BNDES tem muitos paralelos com o que outros bancos públicos pelo mundo estão fazendo, como o próprio Banco Europeu e os programas de injeção de recursos na economia de Joe Biden, nos EUA.

Eles sinalizam, sobretudo, que a busca por atividades empresariais que sejam limpas, além de socialmente responsáveis, depende de investimentos públicos — e não apenas da boa vontade do mercado. Nesse sentido, o sinal do BNDES se choca frontalmente com o argumento (ou a falta de) que vem do Ministério da Economia. Talvez seja porque o BNDES, ao contrário do governo, ainda baseie suas decisões em racionalidade econômica.