24/01/2019 - 18:00
A notícia caiu como uma bomba entre os trabalhadores da empresa. A GM divulgou um comunicado interno na sexta-feira 18 para todos seus funcionários em que destaca as dificuldades para continuar suas operações no Brasil e fala na possibilidade de fechamento de fábricas e até mesmo de interrupção da produção na América do Sul. Causou estranheza a dramaticidade do documento, que apresenta a GM numa situação de crise profunda, apesar de ser a montadora que mais vende carros no País. Seu modelo Onix, que custa a partir de R$ 48 mil, está há três anos no topo da lista dos mais vendidos do mercado. Mesmo assim, o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, informou que a empresa “teve prejuízo agregado significativo no período de 2016 a 2018 que não pode mais se repetir”. E reforçou que a montadora vive um momento crítico que “vai exigir importantes sacrifícios de todos e que 2019 será um ano decisivo para nossa história.”
Na última terça-feira, Zarlenga se reuniu com lideranças dos sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos e de São Caetano, onde a GM tem fábricas em São Paulo, e com os prefeitos dos dois municípios, Felicio Ramuth e José Auricchio Júnior, para discutir um plano de viabilidade para a empresa. O plano requer apoio dos governos, concessionários, empregados, sindicatos e fornecedores e, segundo Zarlenga, do seu sucesso dependerão os novos investimentos e o futuro da GM. “Nós, obviamente, manifestamos nossa oposição a essa reestruturação que a companhia está fazendo, ao fechamento de plantas, às demissões e a todo esse projeto que busca descarregar nas costas dos trabalhadores uma crise que nem existe”, afirma Renato Almeida, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. “A situação apresentada pela GM é muito contraditória, eles não dimensionaram o prejuízo para nós e queremos que a empresa abra seus livros caixa para iniciarmos um processo de negociação”. A GM não quis se pronunciar sobre o assunto.
Uma das finalidades imediatas da ameaça da GM de fechar fábricas ou deixar o País é conseguir vantagens fiscais e pressionar os metalúrgicos para que haja redução dos custos de mão-de-obra. O governo de São Paulo, através do secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, indicou que poderá conceder incentivos fiscais para a GM e, consequentemente, para todas as montadoras do estado. Meirelles reconhece dificuldades no setor e cogita antecipar créditos do ICMS a que a indústria tem direito em troca do abatimento imediato de impostos devidos.
Apesar do mercado de veículos ter sofrido uma queda brusca entre 2014 e 2016, nos últimos dois anos ele apresenta tendência de retomada. No ano passado, por exemplo, o licenciamento de carros novos cresceu 13% e a GM viu seu volume de vendas aumentar 11,7%. A empresa comercializou 434,3 mil carros e veículos comerciais leves no País. Mesmo assim, alega que teve prejuízos estimados em R$ 1 bilhão no período. Mundialmente, a empresa tem apresentado resultados positivos e, no terceiro trimestre do ano passado, teve lucro de US$ 2,53 bilhões. A GM controla quatro fábricas no Brasil. Além de São Caetano e São José dos Campos, tem unidades em Gravataí (RS) e Joinville (SC), onde produz motores. Em São Caetano são feitos os modelos Onix, Cobalt, Spin e Montana. De Gravataí, saem o Onix e o Prisma. E a unidade de São José dos Campos, com 4,8 mil trabalhadores, produz a picape S-10 e a SUV Trailblazer, além de motores e transmissões. A GM emprega cerca de 16 mil trabalhadores no País e cogita o corte de 20% do pessoal.
Negócios globais
Nos últimos dois anos, a GM dá sinais de perda de interesse por alguns mercados emergentes. Fechou fábricas na Rússia, na Indonésia e diminuiu operações na Tailândia. Também estuda vender a Opel para a PSA Peugeot Citröen e suspender operações na Índia e na África do Sul. Em um plano de reestruturação anunciado em novembro, a presidente mundial da GM, Mary Barra, comunicou que fechará quatro fábricas nos Estados Unidos, uma no Canadá e mais duas em outras regiões. No Brasil, a fábrica que está mais ameaçada é a de São José dos Campos. Ela tem sido preterida nas últimas rodadas de investimento da montadora e, desde 2012, quando perdeu as linhas de produção de modelos populares, é um foco de tensão entre a empresa e o sindicato.