“As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que de fato o mudam.” O fato de Walter Isaacson ter escolhido a famosa frase de Steve Jobs como epígrafe de seu novo livro diz muito sobre o que ele pensa a respeito do biografado. Significa que o autor acredita que ele está mudando o mundo — e também que é louco. Elon Musk, a aguardada história do empresário sul-africano que se tornou o homem mais rico do planeta, tem tudo para se tornar um best-seller. Afinal, como não se interessar por sua vida? De onde ele veio? Como se tornou um bilionário? O que pensa sobre o futuro? A verdade é que nunca se soube tão pouco sobre alguém tão poderoso.

Musk controla tantos empreendimentos em áreas tão diversas que não seria exagero dizer que a sua visão pode impactar os próprios rumos da humanidade. Por isso essa questão é tão importante: quem é Elon Musk?

“‘O pânico com o coronavírus é idiota’, tuitou Musk. Quando a Califórnia emitiu uma ordem para que as pessoas ficassem em casa, ele decidiu desafiar o governo. A fábrica iria permanecer aberta. Depois que as autoridades ameaçaram forçá-la a fechar, Musk entrou com um processo contra as ordens. ‘Se alguém quiser ficar em casa, ótimo. Mas dizer que as pessoas não podem sair de casa e vão ser presas se saírem, isso é fascismo.'”
Elon Musk, no trecho do livro em que critica o isolamento durante a pandemia

Nascido em Pretória, na África do Sul, teve uma infância marcada pela violência, algo que certamente influenciou o homem que viria a se tornar.

O acampamento escolar para onde ele e o irmão eram enviados anualmente pelo pai, Errol, não apenas permitia, como estimulava a agressão entre os garotos.

Aos doze anos, espancado por um grupo mais velho, Musk teve o nariz quebrado e passou uma semana internado no hospital. Quando chegou em casa, o pai ficou do lado do agressor e o chamou de “idiota inútil”, forma nada carinhosa como costumava se dirigir ao filho.

A compra do Twitter: capricho que custou US$ 44 bilhões perdeu 40% em receita desde a aquisição (Crédito:Justin Sullivan)

“Ele fazia tortura psicológica”, diz Musk. “Com uma infância como a dele, acho que é preciso se fechar emocionalmente um pouco”, confirma a ex-mulher Justine, mãe de cinco dos dez filhos do empresário. “Se você cala o medo, talvez tenha que calar outras coisas também, como a alegria e a empatia.”

Essa incapacidade de demonstrar emoções está presente ao longo de todo o livro, não importa se Musk está diante de um fracasso ou de uma conquista. É uma característica tão marcante que o faz parecer um ser de outro mundo.

“Musk desenvolveu uma aura que lembra a de um alienígena, como se sua missão de chegar a Marte fosse um desejo de voltar para casa e sua aspiração de construir robôs humanoides fosse uma busca por pertencimento”, define Isaacson. “Com a convicção de um profeta, ele fala sobre a necessidade de nutrir a chama da consciência humana, sondar o Universo e salvar nosso planeta.”

A definição, mais apropriada para um guru que para um homem de negócios, explica a forma como Musk vê a si mesmo: alguém que tem o dever de interferir na história da humanidade para levá-la à evolução.

Guerra da Ucrânia: empresário permitiu o uso de seus satélites na defesa do território, mas proibiu que os drones do país atacassem a Rússia (Crédito:AP Photo/Libkos)

Essa é uma das razões que o faz atuar em áreas tão diversas. Formado em Física e Economia, fundou com o irmão a Zip2, guia de jornais vendido em 1999 por US$ 300 milhões. Com o dinheiro, criou o sistema de pagamentos online X.coma obsessão pela letra X começou aí —, que depois se tornou o PayPal.

Em 2002, aos 41 anos, vendeu a empresa para o eBay e lucrou quase US$ 200 milhões. A quantidade de projetos que passou a desenvolver a partir daí dá uma boa dimensão da sua megalomania.

Criou a empresa aeroespacial SpaceX para realizar um de seus sonhos: levar o homem a Marte. Dessa experiência nasceu a Starlink, a primeira companhia privada a colocar um satélite na órbita terrestre.

Musk acabou envolvendo a empresa em um delicado embate geopolítico: após auxiliar a Ucrânia no início da invasão russa, provendo internet por satélite após os ciberataques de Vladimir Putin, decidiu proibir o uso do sistema quando os drones ucranianos iriam atacar as tropas russas na Crimeia. A decisão teve impacto direto na guerra e revelou como é arriscado ter tanto poder nas mãos de um homem só.

Musk ainda encontra tempo para revolucionar a indústria automobilística com a Tesla, a maior empresa de carros elétricos no mundo; fundar a Neuralink, que desenvolve a interface entre o homem e a máquina por meio de implantes neurais; e, mais recentemente, comprou o Twiter por US$ 44 bilhões — e o rebatizou de “X”. Sua extraordinária história de vida até agora tem sido bem sucedida, mas ela ainda está longe do capítulo final.