Especialistas da Universidade de Tulane, EUA, analisaram o lixo e os destroços acumulados em construções de Pompeia, Itália, e concluíram que os romanos implementaram práticas recicláveis em sua rotina há mais de dois mil anos. Arqueólogos encontraram montes com mais de três metros de altura contendo cerâmica, pedaços de argamassa, gesso, entre outros componentes reutilizados em estruturas antigas. Ao que tudo indica, o descarte era tratado com cuidado e deixado em pontos estratégicos nas imediações da cidade.

+ Governo abre consulta pública sobre reciclagem de embalagens de vidro
+ Pandemia torna mais urgente a reciclagem
+ Reciclagem aumenta 35% em São Paulo

Até então, acreditava-se que os montes haviam se formado durante um terremoto que atingiu Pompeia cerca de 17 anos antes da erupção do Vesúvio, vulcão que devastou a região em 79 anos a.C e matou milhares de pessoas. No entanto, segundo o estudo, a população já fazia uso de materiais reaproveitáveis e tornou a reconstrução possível através dos dejetos. Alisson Emmerson, arqueóloga que lidera as escavações, afirma que a descoberta pode colocar os romanos como precursores da reciclagem na história da humanidade. “As pilhas de lixo do lado de fora dos muros não eram de materiais para serem jogados fora. Elas estavam ao lado das paredes sendo coletadas e classificadas para serem revendidas para dentro dos muros da cidade”, disse ao jornal The Guardian.

COMÉRCIO Arqueólogos acreditam na existência de um amplo mercado de lixo reaproveitável: compra e venda

De acordo com registros históricos, na sociedade da época, dividida em níveis hierárquicos (elite, plebeus, escravos), a maioria dos habitantes era pobre, portanto, pegava materiais do lixo ou comprava produtos de segunda mão quando podia. As amostras do solo foram fundamentais para entender a movimentação e distribuição do lixo na região. Em locais onde há concentração de componentes mais orgânicos, a qualidade do solo é melhor, em outros, o solo é mais arenoso, sendo assim, é provável que conforme o cidadão modificava uma construção, buscava os materiais que fossem mais adequados.

Pesquisadores encontraram montes com três metros de altura contendo gesso, cerâmica e outros materiais usados em antigas estruturas

Cidade modelo

Roma era referência para outras regiões da época, há mais de dois mil anos. Lá, era possível encontrar desde especiarias e temperos até artesanato. Por conta do amplo desenvolvimento, governantes locais pensaram em como manter a estrutura em equilíbrio sem fazer da cidade um aterro sanitário. “Os romanos produziam muito lixo por conta da prosperidade. Há evidências históricas de que a cidade contratava profissionais para retirar material orgânico, como esterco de animais para aplicar na adubagem”, afirma Julio Cesar Magalhães, historiador da USP. “Pompeia tinha uma prioridade diferente”, reforça a arqueóloga Alisson Emmerson. Resta saber como potencializar as práticas iniciadas pelos romanos nos dias de hoje.