De uma promissora carreira no tênis universitário nos Estados Unidos a um verdadeiro fenômeno nas areias do beach tennis. A trajetória da paulistana Sophia Chow, de 28 anos, se confunde com a própria explosão da modalidade no Brasil. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, a atleta número um do País e atual top 3 do mundo fala sobre o início da carreira, os desafios do esporte, a preparação para os torneios e a busca pelo topo do ranking mundial.
- Início no esporte: Sophia trocou o tênis pelo beach tennis durante a pandemia, após retornar dos EUA, onde tinha bolsa de estudos.
- Popularidade: para a atleta, a modalidade se tornou uma febre por ser um esporte “democrático” e com forte apelo social.
- Rotina de elite: a preparação de Sophia inclui treinos diários, fisioterapia, academia, acompanhamento com psicóloga e nutricionista.
- Meta principal: atleta acredita que pequenos ajustes em momentos decisivos dos jogos podem levá-la a ser número um do mundo.
A transição das quadras para a areia
Nascida em São Paulo, Sophia Inaimo Chow teve o primeiro contato com uma raquete aos seis anos de idade, mas em outra modalidade: o tênis. A dedicação a levou para a University of San Diego, nos Estados Unidos, com uma bolsa de estudos. O beach tennis, por sua vez, surgiu de forma despretensiosa, durante as férias no Brasil. “Fomos lá jogar num domingo só para ver como é que era. Mais uma brincadeira”, relembra Sophia, que na época era sócia do Clube Paineiras, na capital paulista.
A mudança de modalidade, no entanto, se deu durante a pandemia de Covid-19. Após concluir a faculdade e retornar ao Brasil em 2020, encontrou no esporte um refúgio e uma nova carreira. “Quando eu voltei dos Estados Unidos, durante a pandemia, eu tentei ficar lá mais um tempo depois que eu me formei, mas estava tudo fechado. Começou a pandemia e aí o mercado fechou, ninguém sabia o que ia acontecer. ”, explica.
Segundo a atleta, a transição foi “relativamente natural”, embora as técnicas sejam “extremamente diferentes”. A busca por conhecimento foi fundamental. “Tive a oportunidade de estar com o Thales [Santos]. Depois fui atrás do Danny [Cirella], que é o meu treinador hoje. O começo foi bastante “tenístico”, mas a técnica foi muito importante para eu fazer essa transição”, afirma. A dedicação no esporte, segundo a atleta, ajudou a acelerar o processo.
A rotina e a mentalidade para ser a número 1
A ascensão de Sophia Chow ao topo foi meteórica. Questionada sobre o diferencial que a transformou em número 1 do Brasil em cerca de quatro anos, ela aponta a dedicação em ouvir e aplicar os conselhos de seus treinadores. “Eu me dedicava muito em aperfeiçoar, não era nem: ‘Ah, eu quero chegar no próximo torneio e ganhar’. Era muito de aperfeiçoar meus golpes e tentar entender como que era o meu jogo”, conta.
Para chegar ao topo do ranking, hoje liderado por duas italianas, Giulia Gasparri e Ninny Valentini, respectivamente, Sophia acredita que o ajuste é fino. “Acho que é aproveitar melhor os momentos que a gente tem durante os jogos. Nesse nível que a gente está agora, bem no topo, cada momento é importante”, avalia.
Sobre a rotina de um atleta de elite, Sophia explica que em semanas de torneio os treinos são intercalados com viagens, fisioterapia para recuperação e uma ou duas sessões de academia. Quando não há competição, a carga aumenta. “Academia três ou quatro vezes por semana e a parte da quadra, em média, quatro vezes por semana”, detalha. A preparação é complementada por uma equipe multidisciplinar que inclui psicóloga e nutricionista.
O trabalho mental, aliás, é um pilar para lidar com a pressão. “É muito duro para o atleta, a gente nunca quer perder. É normal que a gente se frustre, fique bravo. Mas o quanto de tempo que você fica nesse negativo e consegue sair dessa zona para a positiva é o mais importante. Essa virada de chave de ficar pouco tempo no negativo e olhar para o próximo ponto”, desabafa.
O beach venceu?
Para Sophia, o sucesso avassalador do beach tennis, que conta com mais de 1,2 milhão de praticantes no País, segundo dados da CBT (Confederação Brasileira de Tênis), se deve a fatores como a facilidade para iniciantes e o forte componente social. “Acho que é um esporte muito democrático. As pessoas vão lá, jogam com os amigos, com o pai, com a filha. Você pode trazer qualquer um para jogar”, analisa.
No âmbito profissional, ela enxerga um cenário em evolução, mas com espaço para melhorias. “O beach tennis ainda tem muito a crescer, trazendo ainda mais estrutura para os atletas profissionais nos torneios. Os atletas ainda buscam melhorias, tanto da parte dos organizadores quanto das entidades que gerem o esporte, mas eu acho que está num caminho muito bom”, pontua.
Foco no Pan-Americano
Na próxima semana, Sophia representará o Brasil no Pan-Americano, que será disputado em Caraguatatuba, litoral de São Paulo, de quinta a domingo. A atleta, que vai em busca do terceiro título do torneio, diz que a expectativa é alta para competir “em casa”. “Jogar pelo Brasil traz muito orgulho. É uma sensação incrível, porque a gente não joga só por nós. Com certeza quando a gente entra na quadra, a gente quer dar ainda mais para trazer esse campeonato”, finaliza.