A não ser que você more numa caverna, a essa altura já sabe que o BBB 21 está no ar e na mente de boa parte da população.

Como sempre acontece, antes da temporada começar, o programa é alvo de intensas críticas.

Dizem que é um programa velho, que não aguentam mais, que a fórmula é repetida.

Ou que é um absurdo encher uma casa de gente improdutiva para passar meses exercendo suas improdutividades.
Aí o programa começa e todo mundo esquece as críticas.

O País mergulha num experimento social seríssimo.

O que parecem fofocas de um bando de aspirantes a celebridade são, na verdade, matéria bruta para estudos do comportamento humano. Nos quatro cantos das redes sociais surgem especialistas em ética, moral, neurolinguística, psiquiatria e outras disciplinas de humanas.

Então chegam às terças-feiras. Ah, às terças-feiras.

O tribunal nacional se reúne para expulsar o fulano que tratou mal a fulana que por sua vez xingou o beltrano que está ficando com sicrana.

O paredão é uma decisão tomada por cada espectador com muita seriedade.

Muito mais do que em votações menos importantes, como aquelas promovidas pelo TSE.

A verdade é que estou errado em meu sarcasmo.

Estando na sua vigésima primeira edição, o programa já provou que atinge em cheio corações e mentes do brasileiro.
Quem sou eu para meter o pau.

Até o presidente Jair Bolsonaro, que odeia a Globo, copiou a receita e criou sua versão pessoal do programa.

Para não dar bandeira e não competir pela audiência, o paredão do mandatário não acontece na terça, mas sim, às quintas.

Nesse dia, o presidente faz uma live, onde o exerce secretamente seu desejo de ser um astro da TV, como seu ídolo, Donald Trump.

A claque se delicia com suas piadas grosseiras.

Em sua live, o presidente fala o que bem entende.

Não tem filtro.

Ofende a imprensa, xinga inimigos políticos, rasga projetos, enfia o dedo na nossa cara e constrange aqueles que sentam ao seu lado.

Até o tradutor de línguas às vezes não tem sinais adequados.

A audiência cativa vibra.

Afinal, nada melhor para um país que ama reallity shows do que um paredão constitucional.

E com seu jeitão desbocado, Bolsonaro vai espantando a impopularidade. Com isso, a sombra de um impeachment virou coisa do passado.

O presidente enfiou as mãos nos bolsos do Posto Ipiranga e fez aquilo que sabe fazer melhor: baixo-clerou.
Sem a menor cerimônia, rompeu sua promessa ao distribuir dinheiro a rodo para garantir que Câmera e Senado fossem presididos por seus aliados. Escapou do paredão, isso sim.

Mas uma coisa é certa: o modelo presidencialista realmente não funciona no Brasil, com tantos impeachments em tão pouco tempo.

Então, enquanto aguardamos 2022, deveríamos discutir novas formas de governo.

Há quem queira o parlamentarismo, outros advogam o semipresidencialismo da França, Finlândia e Portugal.

Tem até quem queira a volta da monarquia, porque nesse país a zoeira não tem fim. Nada disso vai funcionar.

Precisamos de soluções jabuticaba, como sempre fizemos.

O paredão é uma decisão tomada pelo espectador com seriedade. Muito mais
do que em votações menos importantes, como aquelas promovidas pelo TSE

Muito melhor ir no popular e sugerir o óbvio. Uma forma de governo tipicamente brasileira: O BBBismo.

Funciona assim: Em 22 a gente coloca todos os candidatos na mesma casa por 4 anos. Isso mesmo.

Governo com transparência 24 horas por dia.

Vão estar lá, dividindo o mesmo quarto, Lula, Bolsonaro, Moro e quem mais quiser participar.

Toda semana, as prioridades do país serão decididas nas provas.

Ganhou a prova do líder, governa o país por uma semana. E o melhor, como não sabem o que está acontecendo do lado de fora da casa, não atrapalham a gente.

Poderemos, enfim, construir o país que sempre sonhamos.

Sem políticos para estragar tudo.