Ex-líder do PSL na Câmara, o deputado delegado Waldir (GO), virou o centro das atenções nesta semana depois de ter escancarado detalhes do modus operandi do esquema que ficou conhecido como orçamento secreto — manobra chancelada por Bolsonaro para comprar votos de parlamentares no Congresso. Além de denunciar o uso de dinheiro público para comprar a eleição do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) — R$ 10 milhões em emendas para cada aliado que votasse para o alagoano —, o delegado Waldir revelou ainda que o governo prometeu direcionar dinheiro do orçamento secreto a cada congressista que votasse pela aprovação da PEC dos Precatórios. “Ouvi falar que o valor era de R$ 5 milhões a R$ 15 milhões, dependendo do relacionamento do parlamentar com o presidente, do tamanho da bancada, da importância da votação e da necessidade do governo federal de virar o voto”, afirmou o delegado Waldir com exclusividade à ISTOÉ.

TOMA LÁ, DÁ CÁ O ex-líder do PSL denuncia que o governo pagou R$ 10 milhões em emendas a cada deputado que votou em Arthur Lira (foto) para presidente (Crédito:Adriano Machado)

Aprovada no começo deste mês por 323 votos a 172, a proposta apelidada de PEC do Calote, foi uma das vitórias mais recentes de Bolsonaro no Congresso, já que prevê que a União deixe de pagar R$ 91,6 bilhões em dívidas judiciais em precatórios para investir os recursos no que considera mais estratégico. O Planalto pretende utilizar o dinheiro, entre outras coisas, para viabilizar projetos caros para a reeleição do mandatário em 2022, como a criação do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família, e ter mais dinheiro para abastecer o esquema que mantém a governabilidade de Bolsonaro até aqui, inclusive R$ 5 bilhões com o financiamento público de campanhas.

Delegado Waldir foi um dos congressistas a votar a favor da PEC. Ele, porém, não tem recebido liberação de emendas extras do governo desde que deixou a liderança do PSL, em 2019. Na época, o partido decidiu substituí-lo pelo filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), como forma de compensar o veto pela rejeição à ida dele para a Embaixada do Brasil em Washington. Insatisfeito com a troca, Waldir foi flagrado em um áudio chamando Bolsonaro de “vagabundo”, prometendo “implodir” o presidente. “Na época da PEC dos Precatórios eu não busquei nenhum valor novo em emendas. Só queria a liberação do valor que eles me prometeram antes e não me repassaram. Dessa vez, não houve sequer oferta”, afirmou.

Compra de votos

O delegado Waldir calcula que o governo lhe deve a liberação de cerca de R$ 49 milhões em emendas dessa natureza. Seriam, pelas contas do parlamentar, R$ 40 milhões referentes à aprovação da Reforma da Previdência, em 2019, e R$ 9 milhões por ter sido membro da Comissão Mista de Orçamento na mesma época. “Não é justo o governo fazer isso, só por causa das nossas divergências políticas. Entregamos os votos que prometemos, mas não recebemos o dinheiro relativo aos acordos”, reclamou o delegado, que não incluiu no montante aquilo que poderia ter recebido pela eleição de Lira, em fevereiro deste ano. Só em 2021, o governo Bolsonaro planejava liberar R$ 18,5 bilhões em emendas extras aos congressistas da base aliada que defendessem os interesses do governo nas votações.

O deputado é o primeiro deputado a falar abertamente sobre o balcão de negócios envolvendo o orçamento secreto na troca de emendas parlamentares por projetos que dão sustentação ao governo Bolsonaro. Em fevereiro deste ano, ele disse ter recebido a oferta de liberação de R$ 10 milhões em emendas extras caso votasse a favor de Arthur Lira para presidente da Câmara. Como não era mais líder partidário naquele período, Waldir não participou das negociações com o Executivo para alinhar valores. Ele simplesmente recebeu a notícia via outro congressista que vinha atuando como líder informal do PSL, em oposição à liderança de Major Vitor Hugo (PSL-GO). “A oferta veio via partido. O diálogo do presidente da Câmara e do Executivo era com os líderes, ou com o presidente dos partidos. O líder que representa a ala da minha legenda foi quem trouxe essa informação até a gente”, contou o delegado.

Na conversa com a reportagem, o deputado goiano voltou a afirmar que, atualmente, quem manda no orçamento secreto é o deputado Arthur Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “Eles conquistaram o direito de operar o orçamento a partir da criação das emendas secretas em 2020. Eles mandam no dinheiro do País. São donos da chave do cofre que antes ficava na mão do Executivo”, afirmou o parlamentar. “O orçamento foi sequestrado por um grupo pequeno. E isso não é justo”, acusou. Para ele, o orçamento secreto é o Mensalão de Bolsonaro, ou o Bolsolão, como é conhecido nos corredores da Câmara.