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Dengue, zika, chikungunya. Não bastam essas três epidemias a castigar o brasileiro. Diversos Estados estão registrando surtos de caxumba, até agora mais conhecida por ser uma daquelas doenças de infância das quais se ouve falar de vez em quando. Desde o começo do ano, no entanto, o que se vê é o aumento do número de pessoas infectadas pelo vírus causador da enfermidade, principalmente entre adolescentes e adultos jovens. Na cidade de São Paulo, por exemplo, de janeiro a junho foram contabilizados 71 surtos – mais de um caso no mesmo local –, atingindo 487 casos. No ano passado, no mesmo período, registraram-se cinco surtos, com 68 casos. No Rio Grande do Sul, em todo o ano de 2015 houve oito surtos, vitimando 267 indivíduos. Neste ano, até o dia 21 de junho, já eram 63 surtos e 549 doentes. Há surtos também em Santa Catarina, Goiás, Pernambuco e Brasília, entre outras localidades.

O aparecimento de vários casos tem provocado situações peculiares nos hospitais. Boa parte dos médicos mais jovens nunca viu um doente e, mesmo os mais experientes, custam a acreditar que o diagnóstico pode ser caxumba. Chegam a pensar até em câncer, mas não na enfermidade. “Não passa na cabeça deles que pode ser a doença”, diz Ralcyon Teixeira, supervisor do pronto-socorro do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, referência nacional no atendimento de doenças infectocontagiosas.

“Quando ocorre na idade adulta, a manifestação clínica é mais intensa” – Paulo Olzon, infectologista

A caxumba é causada por um vírus transmitido por via respiratória. Sua principal característica é o aumento das glândulas salivares. Provoca febre, dores no corpo e dificuldade para engolir, mas em geral é benigna. Porém, em casos graves, pode provocar complicações como surdez, pancreatite, meningite e inflamações de testículo e de ovário – associadas à infertilidade. “E quando ocorre na idade adulta, sua manifestação clínica é mais intensa”, afirma o infectologista Paulo Olzon, de São Paulo.

A principal forma de prevenção é a vacina. A tríplice viral protege contra caxumba, rubéola e sarampo e está disponível na rede pública de saúde para pessoas entre 1 ano e 49 anos de idade. Aqui, porém, há uma polêmica. As duas doses da vacina – consideradas necessárias à imunidade, segundo a Organização Mundial de Saúde – são oferecidas somente para quem tem até 19 anos. Pessoas entre 20 e 49 anos recebem apenas uma dose. O Ministério da Saúde diz que a estratégia está adequada para cada público-alvo e que evidências científicas asseguram que uma dose apenas confere 95% de proteção. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) discorda da posição e prepara um documento solicitando ao governo federal a inclusão da segunda dose da vacina também para quem tem entre 20 e 49 anos.

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Além disso, é possível que boa parte dos pacientes não tenha recebido as duas doses, independentemente da idade. “A vacina só foi introduzida no calendário público de vacinação em 1996”, diz o infectologista Leonardo Weissmann, médico do Instituto Emílio Ribas e assessor da presidência da SBI. “E a segunda dose só foi oferecida a partir de 2006.”Em menor número estão ainda os jovens que não foram vacinados porque pais ou responsáveis são contrários à prática por entenderem que ela pode trazer mais mal do que bem. É um grande equívoco, já que a ciência provou diversas vezes que as vacinas são sim instrumentos valiosos de proteção.


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