Reza a sabedoria popular que: “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Seguindo neste sentido, corremos – a sociedade brasileira – sérios riscos de vida, pois os “médicos” (locais e internacionais) estão, sim, exagerando na dose. Aliás, o mundo também corre certo perigo de vida, mas não e apenas por isso.

Bem, o sujeito que negar a realidade ambiental do planeta ou é louco ou um ignorante de “marré deci”. Aliás, cego, surdo e sem outros dos cinco sentidos também, pois basta viver no Brasil, e às 8h30 da manhã estar suando em uma sauna ao ar livre, para perceber que algo de errado não está certo com o clima.

PEGADAS DE CARBONO

Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), Flávio Roscoe vem fazendo duros alertas em relação às legislações ambientais que vêm sendo costuradas no âmbito de organizações como COP, OCDE e ONU. Pretendem, acertadamente, premiar e punir, respectivamente, bons e maus países. Beleza.

O problema é que, como posto até então, nações altamente poluidoras serão beneficiadas com regras aduaneiras, pois conseguirão cumprir metas mais facilmente que outros, ao contrário, muito menos danosos ao meio ambiente e, portanto, já que em patamar elevado, terão dificuldades. Ou seja: o crime compensou antes e compensará depois.

MINAS GERAIS

Os segmentos de mineração e agropecuária brasileiros, por exemplo, já contam com legislações rigorosíssimas, até mesmo para os padrões internacionais. Assim, obviamente, para atingirem metas ambientais adicionais, precisarão de esforços muito maiores que, repito, países atualmente poluidores, que começarão “do zero”. É injusto.

Jarbas Soares Jr., procurador-geral do Ministério Público de Minas Gerais, passou boa parte de sua exitosa carreira dedicado a ações e processos ambientais, e costuma seguir a lógica: “o ótimo é inimigo do bom”. A ideia é que o pragmatismo deve imperar sobre sonhos e ideologias, já que, de desejos impossíveis, o céu está cheio. Bingo!

BRASIL

Durante o congresso “O Papel do Brasil na Economia Verde”, ocorrido no final do ano passado, Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, chocou a audiência com um duro – e irrefutável – choque de realidade sobre a “situação dramática” da indústria brasileira frente à competição com a China. O executivo deu exemplos claros da hipocrisia em curso.

Segundo Werneck, enquanto legislações ambientais impõem custos altíssimos à produção de aço no Brasil, a indústria de transformação nacional importa o metal da China a preços bem menores, já que o país oriental não chega nem perto de cumprir as regras exigidas dos brasileiros. Assim, além de perder mercado, perdemos, também, emprego e renda.

MOBILIDADE

A ideologia exacerbada, ou dose exagerada do remédio – veneno, portanto – é vista, igualmente, em outros segmentos importantes da economia. O setor imobiliário costuma ser vítima de mistificações que levam, na maioria das vezes, a prejuízos ambientais muito maiores que os possíveis transtornos causados.

A ideia fixa – BH é o caso! – de sobretaxar grandes empreendimentos e exigir contrapartidas inviáveis, levam o capital investidor para cidades vizinhas (e até outros estados). Com a falta de infraestrutura viária, o caos toma conta do trânsito, gerando impactos ambientais e de saúde humana muito maiores, sem falar no declínio da produtividade em geral.

TRÊS PODERES

A sociedade empresarial brasileira, em grande parte, encontra-se amadurecida e em linha com as melhores práticas corporativas mundiais. Foi-se o tempo das cavernas nas relações com mercados e colaboradores. Mas não basta o empresariado fazer sua parte se o Poder Público, em suas três esferas (municipal, estadual e federal) e Poderes, não colaborar.

Atenção, Poder Legislativo: leis ambientais são imperativas, desde que equilibradas. Fiscalizações e autuações, idem. Além, é claro, do direcionamento correto das políticas tributárias e regulatórias – eis o papel do Executivo. Por fim, processos céleres e imparciais, bem como segurança jurídica ampla, geral e irrestrita, são esperados do Judiciário.

Juntos, sociedade civil, iniciativa privada e Poder Público poderão enfrentar os desafios ambientais à frente. Porém, do jeito que está, o processo de desindustrialização do País só irá aumentar, bem como as commodities minerais e agropecuárias estarão cada vez mais pressionadas. E o resultado, meus caros, já conhecemos de cor e salteado: baixo crescimento, desenvolvimento inexistente e desigualdade social crescente.