Há um princípio implícito a todas as fortes economias do mundo de que elas só são o que são – grandes, sólidas e potentes – porque há confiança entre os agentes empresariais e financeiros na estabilidade político-institucional dos países. Nos últimos dois anos, essa foi exatamente uma das garantias que faltou ao mercado econômico brasileiro, aturdido pelo vai-e-vem de uma política econômica sem rumo, que arrastou a nação para uma das piores crises da sua história. A oficialização de Michel Temer como presidente do Brasil encerra finalmente esse ciclo e restaura entre os executivos a esperança de que o terreno voltará a ficar firme. Foi possível constatar a mudança de humor do empresariado a partir do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, em abril. O sentimento começou a despontar nas pesquisas realizadas para medir o grau de confiança em vários setores, como o da indústria de transformação. Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas feito em julho neste segmento revelou que a percepção com a atual situação e as expectativas em relação aos próximos meses já haviam melhorado. Entre junho e julho, o indicador passou de 83,4 pontos para 86,9, registrando a quinta alta consecutiva.

“A fixação do teto para os gastos públicos é a medida mais importante”
Roberto Setúbal, presidente-executivo do Itaú Unibanco Holding

“O governo entende a importância de voltarmos a apresentar o selo de investimento seguro”
Claudia Sender, CEO da companhia aérea Latam Airlines Brasil

“O novo governo vem com um voto de confiança”
Paulo Skaf, presidente da Fiesp

“Todos os indicadores mostram muito otimismo. Haverá a retomada da economia”
Flavio Rocha, proprietário da Riachuelo

INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS

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Assim que Michel Temer assumiu interinamente a presidência, várias multinacionais, antes receosas de voltar a investir no País, anunciaram novos aportes no Brasil. Em maio, a Nestlé divulgou o investimento de R$ 500 milhões em 2016 e a criação de sete mil vagas de trabalho nos próximos três anos. A Coca-Cola confirmou recentemente a aplicação de R$ 3,2 bilhões em 2017 – 10% a mais do que nos últimos cinco anos.

O empresário Flávio Rocha, proprietário da rede Riachuelo, já previa que isso aconteceria. Há um ano, ele alertara que a única saída para a retomada da economia seria o impeachment de Dilma. Hoje, Rocha comemora a mudança no comando do governo. “O presidente Michel Temer é de um partido bastante pragmático, com políticos mais experientes”, afirma. “Todos os indicadores mostram muito otimismo. Haverá uma retomada da economia.”

A expectativa é compartilhada pela maioria dos responsáveis pelo PIB nacional. A executiva Claudia Sender, CEO da companhia aérea Latam Airlines Brasil, acredita que Temer e sua equipe econômica, comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, iniciaram o caminho de reconstrução ao pontuarem claramente que estão comprometidos com o ajuste das contas públicas e o resgate da credibilidade internacional do País. “Uma das coisas que o novo governo entende é a importância de voltarmos a apresentar o selo de investimento seguro”, diz a executiva.

RETOMADA IMEDIATA

Desde que passou a comandar o País, o novo presidente anunciou medidas importantes para a retomada do crescimento. As principais foram a devolução ao Tesouro Nacional de R$ 100 bilhões de ativos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e o envio ao Congresso Nacional de uma proposta de emenda à Constituição de fixação de um teto para os gastos públicos pelos próximos vinte anos. “Esta é a medida mais importante para a retomada do crescimento econômico e do emprego”, afirma Roberto Setubal, presidente-executivo do Itaú Unibanco Holding. O projeto está em análise em uma comissão da Câmara Federal. E é justamente para o Legislativo para onde também se volta a atenção do empresariado nacional. “Espero que a partir de agora o governo possa encaminhar as reformas necessárias para discussão no Congresso Nacional”, diz Setubal.

Não será uma tarefa fácil fazer o País reencontrar a rota do crescimento, especialmente diante da herança nefasta deixada pelos 13 anos de administração petista. Sabe-se que o governo Temer tem pela frente várias batalhas para conseguir aprovar projetos de transformações essenciais e há muito esperadas, como as reformas tributária e da previdência. Essas empreitadas exigirão do governo enorme habilidade política para levar as mudanças adiante em um cenário ainda impactado pelo clima de radicalização que tomou conta do País nos últimos meses. Pelo menos até o momento, o empresariado já deixou claro que dará suporte para que o presidente implemente as correções que recolocarão a economia nos trilhos. “O novo governo vem com um voto de confiança”, assegura Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

A atmosfera econômica menos sombria repercute positivamente na outra ponta da cadeia econômica, a dos consumidores. De acordo com um levantamento recente feito pela Confederação Nacional da Indústria, houve um avanço no sentimento de otimismo do cidadão com a própria renda. Em junho, o indicador avançou 0,8% frente a julho e 3,1% comparado a agosto de 2015. Com isso, o Índice Nacional de Expectativas do Consumidor chegou aos 102 pontos, bem próximo da média histórica, de 108,9 pontos. Quando os consumidores confiam no País, é sinal inequívoco de que o pior já passou.


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