Algoz da morte, fenômeno da natureza, uma raridade. Mesmo que a ciência moderna viva seu melhor momento na história da humanidade desde que foi difundida no século XVI, ela ainda se depara com muitas perguntas sem respostas. Amantes da curiosidade, especialistas da revista científica Current Biology se depararam com um fato jamais visto: um organismo multicelular congelado de 24 mil anos que voltou à vida.

Embora o rotífero bdeloídeos, animal invertebrado microscópico, seja famoso por sua capacidade de sobreviver em temperaturas extremas, o fato de ter ficado congelado por tanto tempo na permafrost da Sibéria, na Rússia, impressiona. Por meio de testes de datação de carbono, especialistas detalharam que o organismo possui uma habilidade única: a criptobiose. Neste estado, dependendo das condições climáticas, o rotífero consegue reduzir suas funções metabólicas para se adaptar. É como se tivesse um botão de pausa nos sinais vitais. “No caso desses animais, o metabolismo para, mas eles não morrem”, relata o biólogo Daniel Delgado, do Centro Universitário Ages.

“Ainda não se sabe ao certo como eles fazem para sobreviver. O metabolismo para, mas eles não morrem” Daniel Delgado, biólogo (Crédito:Divulgação)

No laboratório, os especialistas russos identificaram também que os seres suportam a formação de cristais de gelo – processo que ocorre durante o congelamento. Assim sendo, seus órgãos não são danificados em longo prazo quando as temperaturas ficam extremamente baixas. Independente da análise, ainda não se sabe ao certo como é o processo. A incógnita motiva os russos. Via comunicado, o biólogo Stas Malavin, integrante da equipe que analisa o material, reforçou que “um organismo multicelular que pode ser congelado, armazenado por milhares de anos e depois voltar à vida é o sonho de muitos escritores de ficção”.

Super resistência

Historicamente, acredita-se que os animais microscópicos deram origem à vida na Terra depois que os dinossauros foram extintos devido à mudança nas condições climáticas causadas pelo choque de um asteróide. Sua habilidade de reinserção na natureza garante que outros seres vivos também se proliferem. Deste modo, os cientistas acreditam que o rotífero pode ser a chave para desvendar o mistério da imortalidade, até porque não se sabe quanto tempo eles podem ficar em estado de criptobiose. Delgado teoriza que em caso de uma explosão atômica, os rotíferos seriam um dos poucos organismos vivos com capacidade de adaptação no planeta.