Rodrigo Teixeira, o mais internacional dos produtores brasileiros, tem conseguido brilhar sob diferentes holofotes. Emplacou O Farol no Festival de Cannes, em maio, e o longa de Robert Eggers virou, para muita gente, um modelo de terror ousado e criativo. Antes disso, já mostrara no Festival do Rio, há dois anos, O Animal Cordial, de Gabriela Amaral.

Como cinema de gênero e tudo o mais, o filme brasileiro é muito melhor.

O Animal Cordial passa hoje na TV paga – no Canal Brasil, às 21h50. É um bom pretexto para que se aborde o terror brasileiro, que tem feito tanto sucesso – mais de crítica, é verdade – no País. Vamos lá. Há pouco tivemos o lançamento de Morto Não Fala, de Dennison Ramalho e, depois dele, o Justiça de Andrucha Waddington, com roteiro da mulher dele, Fernanda Torres. Independentemente de se gostar mais de um, ou outro, uma característica do terror nacional, unindo os três filmes citados, é a complexidade da crítica social. O Brasil da casa grande e da senzala está retratado na morgue de Ramalho, onde o personagem de Daniel de Oliveira enlouquece falando com os mortos e os cadáveres nas mesas de autópsia expõem as vísceras da periferia. Predominantemente jovens, negros e pobres.

Fernanda Torres vai à origem do grande trauma mineiro e volta com uma história de escravidão e vingança, na qual Andrucha oferece um papel sob medida para Criolo. Vale ressaltar que cinema de gênero virou sinônimo de terror, mas a diversidade dos gêneros tem permitido a Andrucha exercitar-se no suspense, no terror sobrenatural, na comédia e no musical, sempre com desenvoltura, e sempre comprometido com o desejo de dizer duas ou três coisas sobre o Brasil.

Falando da saúde (Sob Pressão), do rádio e da televisão (Chacrinha), de uma mulher e seus maridos no sertão (Eu Tu Eles) ou de duas mulheres, que podem ser uma só, perdidas na imensidão do tempo e do espaço, naqueles lençóis maranhenses a perder de vista (Casa de Areia), Andrucha não tem feito outra coisa senão investigar os gêneros.

Talvez o melhor terror brasileiro seja As Boas Maneiras, de Juliano Rojas e Marco Dutra, com aquela história de mal de lua subvertendo a relação entre patroa e empregada. Talvez – porque O Animal Cordial é muito forte, naquele restaurante em que, de repente, a chegada de uma dupla de assaltantes vem estourar o mundo. O dono, a garçonete, a cozinha, os clientes. Nada será como antes depois do banho de sangue que sacode tudo.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Questões de gênero e de classe, um ódio visceral e profundo, que não se sabe direito de onde vem, mas dá as caras. Ocorreu no Brasil, nos últimos anos, e o filme antecipou a tendência. Para colocá-la na tela, Gabriela Amaral conta com um elenco excepcional – Murilo Benício, Mariana Ximenes, Irandhir Santos, Luciana Paes, cada um melhor que o outro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias