Por Jorge Forbes, psicanalista, colunista de Gente, presidente do Instituto de Psicanálise Lacaniana e Prêmio Jabuti 2013 Com todos os olhares mirando o brasil, é hora de mostrar ao mundo que abraços e afagos fazem parte da cultura do nosso país Haveria um jeito brasileiro de amar? Na onda de se apresentar o Brasil ao mundo, o povo volta a si e se pergunta com que roupa vai aparecer no baile das nações, inclusive no amor. Não precisamos nos aprofundar muito para perceber que cada povo ama de certo jeito peculiar. É o que nos permite brincar, em caricatura, que o amor francês é cheio de biquinhos e não me toques; que o alemão ama na dureza; que o americano até no carinho usa a régua do custo-benefício; que o argentino, especialmente o macho, abre e exibe todas as penas do pavão; que o italiano fala mais que confirma; que o inglês ama com hora marcada… E o brasileiro? Sim, podemos falar de um jeito brasileiro de amar. A principal característica é a ginga, a flexibilidade, como de resto em tudo. O brasileiro não se leva muito a sério em declarações pomposas. Nem se preocupa em sustentar um pedido de casamento na realidade prática. Primeiro o brasileiro declara e assina o sonho, depois corre atrás de sua realização. Outras nações preferem adequar os sonhos aos fatos, coisa chatíssima nessas bandas. O brasileiro não se prende a uma forma convencional de expressão amorosa. Por aqui, diz o compositor Milton Nascimento, todas as formas de amor valem a pena. Já o poeta Vinícius de Moraes destaca o desmedido do amor na terra onde tudo dá, na infinitude do sentimento enquanto dure. A sensualidade brasileira está à flor da pele. Dizem os sociólogos que nos estudam, como Domenico de Masi, que isso é herança da escravidão. Os negros escravos tinham como seu único bem o corpo. Deles e dos índios teríamos absorvido a cultura do cuidado com o corpo que acaba se refletindo na proeminência da nossa cirurgia plástica e da dermatologia, e nos espetáculos esculturais de nossas praias. Mesmo no silêncio do primeiro encontro os brasileiros dançam. Com o olhar, o aceno, a cruzada de perna, o andar, o meneio. E se você, nesse momento, está sorrindo ao se reconhecer nessas características, querendo delas saber mais, e está com vontade de acrescentar detalhes de sua forma de amar, é porque você é brasileiro e sabe que estamos agora privilegiados em uma pós-modernidade que valoriza o que já intuitivamente sabíamos: que nenhuma explicação de amor é em si suficiente. Que o amor pede sempre um complemento, um jeitinho especial dos amantes. Senão, ora, se não for assim, não tem jeito.