Romântico assumido, Sidney Magal sentencia: “o amor tem de ser brega”. Prestes a completar 70 anos (em 19 de junho) e com um documentário sobre sua carreira a ser lançado até setembro, o cantor, casado há 41 anos, não perde oportunidades de declarar seu amor a Magali, com quem teve três filhos e, há alguns meses, a netinha Madalena. Nesta entrevista especial para o Dia dos Namorados, ele fala sobre como o conceito de “brega” mudou ao longo dos anos – e sobre paixões.

O que é brega para você?

Olha, pra mim o conceito de brega sempre foi tudo aquilo que não é do nosso gosto pessoal. Então nunca me incomodou. Houve uma época que era muito pejorativo, era muito preconceito social. Uma maneira de separar a música chamada de classe A, que era a música dos grandes compositores brasileiros, daqueles artistas populares que gostavam de se vestir de maneira colorida, que tinham cabelos extravagantes.

Durante uma entrevista (ao programa Esquenta, de Regina Casé, em 2013) você falou que nós, brasileiros, “somos coloridos, somos tropicais e bregas”.

Sim, com o passar do tempo e com o Brasil assumindo a sua breguice, a sua forma popularesca de ser, o sertanejo virou chique, o pagode virou chique, o axé virou chique, o funk virou chique. Graças a Deus que as coisas se misturaram, mas você percebe que muito disso era preconceito social.

E no amor? Pode ser brega?

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Eu acho que tem de ser piegas, tem de ser brega. Você tem de fazer declaração de amor, dar flores. No amor, tudo é válido.

‘Brega’ é o termo utilizado para designar as músicas românticas com exageros dramáticos. Podemos citar aqui as suas Meu Sangue Ferve por Você, Me chama que eu vou, Tenho. Pode ser assim exagerado?

Eu acho que eu sou exagerado, né? Por exemplo, as minhas roupas coloridas que eu uso no meu dia a dia… Eu acho que o artista tinha por obrigação apresentar um espetáculo. E um espetáculo não é só o que ele canta, é o que ele veste também.

Então não necessariamente o exagerado – tanto no amor, quanto nas performances – tem a ver com o brega?

Lógico que não. Você imagina o carinho do público comigo, sempre foi um carinho onde cada um estava extravasando muito os seus sentimentos, sua maneira de pensar. Teve fã que já jogou para mim no palco carteira de doador de sangue para poder dizer “meu sangue ferve por você”. Então a gente se expressa como tem vontade, se é engraçado, se é brega, se é feio, se é bonito, não tem a menor importância quando realmente o sentimento é verdadeiro.

A gente conversou com casais que fazem exageros no amor. Alguns enviaram carros de som, fizeram serenata… Você já fez algo assim?

Não, eu nunca fiz. Até faria, mas eu tenho uma mulher, casada há 41 anos comigo, e sei que ela ficaria envergonhada. Eu sou muito romântico, mas sou discreto nesse sentido.

E se fosse ao contrário? Se a Magali fizesse algo para você?

Ah, eu não me incomodaria. Eu acho que qualquer atitude de amor, de carinho, tem de ser respeitada. Eu aprendi isso muito mais com o meu público do que com a minha vida pessoal. (Certa vez) cheguei ao show, fui para o camarim, e uma fã estava lá do lado de fora, me cumprimentou, e eu reparei que ela estava toda de vermelho. Quando entrei no palco, ele estava forrado, inteiro, com buquês de rosas vermelhas que ela levou para o show no porta-malas de uma Kombi. Era pra mais de cem buquês de rosas vermelhas. E quando eu olhei, imediatamente associei à ela. Até hoje, ninguém mais fez aquilo que ela fez. Então ficou marcado o carinho que ela teve e deve ter por mim.

Você falou da fã, eu até ia te perguntar: qual o seu segredo, Magal? Porque são gerações te idolatrando, te assediando…

Olha, se tem algum segredo, um dia eu vou descobrir. A única coisa que eu posso concluir ao longo desses 55 anos de carreira é a veracidade do meu trabalho, mais uma vez aquilo que eu falei: assumir aquilo que você faz, respeitar a você mesmo e ao que você faz em primeiro lugar, e respeitar muito as pessoas com a sua diferença de público.


E essa verdade e amor também está no seu casamento, né? Aliás é uma história tão bonita que vai virar um filme musical.

Vai. Só atrasou um pouquinho por causa da pandemia. Muitas das filmagens já foram feitas aqui em Salvador (onde vive), que foi o lugar que eu a conheci, mas realmente vai ficar lá pro ano que vem. O que vai acontecer este ano ainda, em agosto ou setembro, é o meu documentário (Sidney Magal: Me chama que eu vou), com direção da Joana Mariani, que já está pronto. Nele eu falo tudo da minha vida, canto músicas de Vinicius de Moraes (seu primo de segundo grau), de Dorival Caymmi.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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