CARICATO O “Véio da Havan” lançou o super-herói “Boneco Patriota” que reedita a sua imagem (Crédito:Divulgação)

Diga com quem andas e direi quem tu és. A frase faz muito sentido na cooperação política entre o presidente Jair Bolsonaro e o empresário Luciano Hang, conhecido como o “Véio da Havan”. A influência de Hang fez o presidente mobilizar a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para mudar as regras que regulamentam aeronaves, pilotos e a burocracia do setor. Em evento no Palácio do Planalto no último dia 7, Bolsonaro lançou o programa “Voo Simples” que pretende flexibilizar as regras de segurança, especialmente de acompanhamento de pilotos no que se refere aos controles de treinamento e licenças.

Curiosamente, Bolsonaro teve ao seu lado durante a cerimônia o empresário vestido com seu característico traje verde e amarelo elogiado pelo presidente. No discurso, Bolsonaro fez questão de enaltecer a presença do amigo. Não houve constrangimento, embora o próprio presidente tenha exposto o lobby do empresário. “Eu acho que o Luciano não vai botar loja dele em cidade que não tenha aeroporto, eu acho, não é verdade? É difícil, não é? Fica difícil”, disse Bolsonaro.

A rasgação de seda com o amigo permeiou mais da metade do discurso do presidente. Mas o fato é que a cerimônia mostrou um verdadeiro balcão de negócios entre governo e iniciativa privada de uma forma pouco republicana. Bolsonaro não camuflou a relação de amizade, nem a razão das medidas. Por sua vez, Hang tem aproveitado as medidas anunciadas pelo presidente para investir mais em sua frota aérea. Ele possui três aviões e outros três helicópteros. Apenas um dos modelos.

IRRESPONSÁVEL Polícia fecha loja da rede Havan em Belém (PA) por conta de aglomeração (Crédito:Divulgação)

O Global 6000, está avaliado em US$ 63 milhões. Tanto investimento em transporte aéreo é justificado pelo crescimento do número de lojas que hoje chegam a 150 unidades em todo o Brasil. Hang costuma utilizar os jatos para se locomover e no projeto anunciado pelo mandatário está prevista a facilitação de instalação de novos aeroportos por todo o País. Alinhado com o presidente, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, deu força ao dono da Havan: “Estamos lançando iniciativas que buscam diminuir o peso do Estado sobre o setor da aviação geral, que representa 97% do total de aeronaves registradas no país”. No entanto, não parece razoável flexibilizar a segurança de 97% das aeronaves.

Compõem as novas regras uma série de 52 ações. As mais importantes são: o treinamento em simulador hoje é obrigatório uma vez por ano e a proposta é de aumentar para dois anos; será extinta de a certificação específica para aviação agrícola; o copiloto terá um treinamento técnico mais simplificado, já que hoje ele recebe a mesma capacitação do comandante; haverá a redução de documentação obrigatória que deve estar a bordo; entre outras coisas. Além do amigo lobista, serão privilegiados empresários que terão menos custos para manter a burocracia necessária e o agronegócio, que poderá ter uma expansão com menos controle. As medidas só entram em vigor após consulta pública que deve ser realizada pela ANAC.

Empréstimos no BNDES

A atuação em interesse próprio é recorrente aos amigos de Bolsonaro. Quando candidato, ele não poupava críticas à caixa preta dos empréstimos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A promessa era expor quem eram os maiores beneficiados. No entanto, soube-se depois que Hang era um dos grandes favorecidos pela instituição. O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) já levantou o assunto e disse que Bolsonaro desistiu de “abrir a caixa preta do BNDES” ao ver o nome do amigo Luciano Hang entre eles. De 1993 a 2014, a Havan contraiu 55 empréstimos no BNDES, 50 deles durante o governo do PT. A ascensão do empresário também está em alta. Ele não fazia parte da lista de bilionários brasileiros. Mas depois da vitória do amigo presidente, Hang estreou na lista dos bilionários com uma fortuna estimada em R$ 8,26 bilhões em 2019. A fortuna mais do que dobrou no ano passado e foi para R$ 18,72 bilhões.

Caricato por opção, o empresário acaba de lançar o seu boneco. Um super-herói ao estilo Lex Luthor — careca —, com roupa predominante na cor verde e capa amarela, autodenominado “Boneco Patriota”. O boneco, no entanto, não está exposto na frente das suas lojas, onde a réplica da estátua da Liberdade norte-americana é o símbolo cultuado. A atuação de Hang em relação à Covid-19 também é questionável. Na inauguração da última loja na cidade de Belém (PA), dia 10, a aglomeração e a falta de uso de máscaras foi tamanha que a polícia foi obrigada a fechar a unidade. Não é de hoje portanto, que Bolsonaro e Luciano Hang se identificam na parceria ideológica e nos negócios.