Deputado do baixo clero no Congresso, Josimar Maranhãozinho (PL-MA) virou o centro das atenções nos últimos dias, depois de ter sido flagrado com caixas cheias de dinheiro vivo dentro de seu escritório em São Luís, durante uma ação da PF. Investigado pelo STF desde o ano passado por peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitação, o pré-candidato ao governo do Maranhão é suspeito de participar de um esquema que desviou pelo menos R$ 5,5 milhões em emendas parlamentares que seriam destinadas à Saúde, durante a pandemia. As apurações apontam que o político teve ajuda de parentes, amigos e empresas parceiras, além de fornecer indícios de que o ex-deputado Valdemar Costa Neto também participava dos negócios obscuros do congressista. Condenado no mensalão por corrupção, Costa Neto é presidente nacional do PL, partido ao qual Bolsonaro se filiou e por onde disputará a reeleição.

Maranhãozinho entrou no radar das autoridades quando a PF colocou uma lupa sobre o destino das verbas indicadas por ele. Dos R$ 15 milhões que direcionou ao seu estado em 2020, mais de um terço foi parar nas contas de amigos, assessores e nas próprias mãos. Segundo os investigadores, o dinheiro era direcionado a prefeituras controladas por aliados dele, que contratavam, sem licitação pública, como manda a lei, empresas ligadas ao seu grupo político. Em seguida, funcionários de Maranhãozinho sacavam os valores repassados como forma de propina por essas companhias. Os saques eram feitos na boca do caixa, em espécie, e levados de volta ao chefe, que, segundo apurou ISTOÉ, leva uma vida de milionário, com direito a carros de luxo e relógios caros. Os saques foram identificados em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), anexado ao inquérito que o investiga. Toda a movimentação dos recursos, como a retirada de valores em caixas de bancos, a chegada dos pacotes abarrotados de dinheiro e até o deputado contando as notas, foi registrada por câmeras instaladas pelos federais em pontos estratégicos do escritório do político.

Diante das fortes evidências de crimes apontadas no Coaf, a PF decidiu adotar uma ação pouco usual na corporação para registrar se, de fato, o deputado tomava o dinheiro de volta das emendas parlamentares, que só no ano passado foram superiores a R$ 35 bilhões. A PF conseguiu autorização do STF para instalar oito câmeras e oito microfones no escritório político de Maranhãozinho, e iniciou uma operação que deu ares de filme de FBI ao episódio. Tudo foi feito de madrugada. No dia 19 de outubro do ano passado, policiais passaram quatro horas espalhando os equipamentos em diferentes pontos do local. Câmeras foram instaladas até dentro de um pequeno lago que decora o prédio, para registrar a chegada das malas de dinheiro. Gravadores também foram implantados no escritório e conversas comprometedoras foram capturadas. No fim, os investigadores conseguiram registrar o que consideram a maior “prova do crime”: Maranhãozinho com os enormes maços de dinheiro em espécie nas mãos.

Ao longo do mês, a polícia reuniu uma série de indícios que podem incriminar o parlamentar e outros políticos do seu entorno. No monitoramento, a investigação colheu mais indicativos de que Maranhãozinho usava o dinheiro desviado para financiar campanhas eleitorais de amigos nas disputas municipais, já que os prefeitos eleitos poderiam garantir a sobrevivência do esquema. Por isso, não foram poucas as vezes que o parlamentar foi visto pelos policiais na sala do escritório recebendo pessoas que iam até lá em busca de recursos. No mesmo dia em que o deputado apareceu com o dinheiro na mão, a câmera escondida da PF também filmou Maranhãozinho em uma conversa com um rapaz não identificado para o qual dizia ter recebido R$ 9 milhões “de Valdemar”. Para os investigadores da PF, trata-se de Valdemar Costa Neto, responsável por abonar a ficha de filiação de Bolsonaro na PL. “Mas está pronta a campanha, né?”, perguntou o sujeito. “Valdemar cumpriu tudo certinho comigo. Sim, ele me deu R$ 9 milhões”. O dinheiro dado por Valdemar, segundo relatório da PF, era para o parlamentar usar nas eleições. Maranhãozinho é próximo ao dirigente do PL e deve a ele o fato de ter assumido a presidência do diretório estadual do partido no Maranhão. No dia em que Bolsonaro se filiou ao PL, no fim do mês passado, Costa Neto chegou ao evento escoltado pelo deputado maranhese. A campanha do novo partido de Bolsonaro começa muito mal.