TRAIÇÃO Luís XVI demorou vários anos para consumar seu casamento com Antonieta e era ofuscado pela jovialidade da esposa (Crédito:Divulgação)

O romantismo e o mistério de cartas escritas por amantes sempre movem a curiosidade humana. Especialmente quando um dos protagonistas é uma rainha, no caso Maria Antonieta. Mais de 200 anos depois, cientistas conseguiram decifrar o conteúdo de oito correspondências trocadas entre a rainha e seu provável amante, o conde Axel von Fersen. Até então, a suspeita de uma relação amorosa estava camuflada por rabiscos em torno de trechos nas cartas. O período investigado compreende entre os anos de 1791 e 1792. A esposa do rei Luís XVI encontrava-se presa no Palácio das Tulherias, em Paris, após uma frustrada tentativa de fuga da família real. Mesmo sob uma intensa vigilância, Antonieta conseguiu enviar cartas ao amigo. A turbulência da Revolução Francesa e o fim da monarquia impulsionaram a rainha a buscar um diálogo afetuoso e minimizar as suas angústias. E ela tinha motivos: em 1793 foi guilhotinada.

ROMANCE Cartas da rainha para o conde Axel Von Fersen revelam um clima de intensa paixão entre ambos (Crédito:Divulgação)

A revelação epistolar foi publicada em um artigo na revista Science Advances de autoria dos franceses Anne Michelin, Fabien Pottiere e Christine Andraud. Eles conseguiram decifrar as cartas por meio de uma técnica chamada “espectroscopia de fluorescência de raios X no modo de macroscanning”. O método consiste em jogar iluminação sobre o texto e, assim, isolar as camadas de tinta. Os pesquisadores garantem que a descoberta poderá ser utilizada em outros casos “históricos e forenses” com textos sobrepostos. Apesar das evidências, os cientistas são cautelosos e preferem não afirmar que o caso de amor tenha se concretizado e que não tenha passado de uma paixão platônica. “Porém, a escolha do vocabulário (amado, amigo querido, adorar, loucamente) atesta uma relação particular entre Antonieta e Fersen, mesmo que exista uma influência da tempestade revolucionária, que favoreceria certa intensidade emocional”, dizem os autores. Os termos usados, a camuflagem no texto e o contexto quase que encerram o debate. Antonieta conheceu Fersen num baile de máscaras quando tinha 18 anos e a amizade era pública. Luis XVI era conhecido por ser um rei fraco e comilão, que demorou vários anos para consumar o casamento com Antonieta.

Apesar das evidências, os cientistas são cautelosos em afirmar que o caso tenha se consumado e que não tenha passado de um amor platônico

REVELAÇÃO O método de espectroscopia de fluorescência de raio-X consegue isolar camadas de tinta e exibir textos encobertos (Crédito:Divulgação)

Uma curiosidade que a pesquisa também queria desvendar era a autoria da censura. A hipótese considerada era que o sobrinho de Fersen, o Barão de Klinckowström, que cuidou da primeira edição das cartas, teria feito os rabiscos. Mas a conclusão foi que a censura partiu do próprio amante. “Seja por apego sentimental ou por estratégia política ele decidiu manter suas cartas ao invés de destruí-las, mas redigindo algumas seções, indicando que ele queria proteger a honra da rainha (ou talvez também seus próprios interesses)”, conclui o estudo. Perdulária, a rainha Maria Antonieta foi um dos alvos principais da revolução francesa. É dela, a célebre frase: “Se as pessoas têm fome e não têm pão, que comam brioche”. Alguns historiadores atribuem aos opositores uma campanha difamatória. A fofoca foi escancarada com panfletos que pretendiam abalar a reputação da rainha. Além de ilustrações pornográficas, o número de parceiros e parceiras sexuais atribuídos à Antonieta chama atenção. A duquesa de Polignac, a princesa de Lamballe e a condessa de La Motte foram as principais mulheres citadas. La Motte chegou a confirmar a relação. Já os homens, eram inúmeros, mas entre estes o conde Fersen não aparecia. Por sua vez, o rei Luís XVI era zombado por não ter amantes, nem filhos fora do casamento. Algo impensável naqueles tempos de devassidão.