Feito cigarra que cantou no verão e como formiga que deseja mostrar trabalho no frio, o prefeito paulistano Fernando Haddad e sua Guarda Civil Metropolitana decidiram na semana passada, quando a temperatura andou despencando para a casa do zero grau nas madrugadas (sete mortes), promover a política de “desfavelização” da cidade – a expressão preconceituosa é do próprio alcaide. Haddad parece ter incorporado o ex-prefeito Pereira Passos que no início do século passado expulsou do centro do Rio de Janeiro a população pobre e a fez subir os morros para morar. Só que Haddad é versão piorada. Sob o pretexto de convencer os moradores de rua a irem para os abrigos municipais (há déficit de seis mil vagas), os guardas do petista Haddad andaram lhes tomando, nas noites congeladas, os cobertores, os colchonetes, os papelões e os medicamentos – até coquetel para soropositivos de HIV foram tirados dessa gente em condição de miserabilidade (a medicação é fornecida pelo governo estadual). Isso é crime de tortura. A repercussão do fato se deu em diversos países. O comandante da guarda, inspetor Gilson Menezes, quer evitar a “privatização” de espaços públicos. Está mal informado. A rua de fato é pública, e por ser pública pertence também àqueles que ele quer expulsar. A Justiça já investiga se os métodos da Prefeitura e da Guarda Civil são responsáveis pela morte (por hipotermia) de moradores de rua.