Após alguns dias ausente das redes sociais, Tati Machado, 33 anos, se pronunciou pela primeira vez na segunda-feira, 2, após enfrentar o luto gestacional. A apresentadora da Globo perdeu o filho, que se chamaria Rael, fruto de seu relacionamento com o marido, o fotógrafo Bruno Monteiro. A criança estava prevista para nascer em junho.
Com 33 semanas de gestação, Tati Machado precisou dar entrada na maternidade no dia 12 de maio, após perceber a ausência de movimentos em sua barriga.
Por meio dos Stories do Instagram, a assessoria da jornalista divulgou um comunicado informando a morte do bebê. Leia a íntegra abaixo:
“No último dia 12 de maio, a apresentadora e jornalista Tati Machado, com 33 semanas de gestação, deu entrada na maternidade após perceber a ausência dos movimentos de seu bebê. Até então, a gravidez transcorria de forma saudável e já se encontrava na reta final.
Infelizmente, foi constatada a parada dos batimentos cardíacos do bebê, por causas que ainda estão sendo investigadas. Diante da situação, Tati precisou passar pelo trabalho de parto, um processo cercado de amor, coragem e profunda dor.
Após o procedimento, ela se encontra estável e sob cuidados. Agradecemos imensamente o carinho e o respeito de todos. Pedimos que este momento tão delicado seja vivido com a privacidade que Tati, seu marido, Bruno, e toda a família precisam”.
Desabafo emocionante
Em suas redes sociais, Tati fez uma publicação expondo seus sentimentos sobre o luto e a perda de seu primeiro filho. “Levo no coração uma ferida acesa, daquelas inexplicáveis mesmo. Com ela trago perguntas, muitas por sinal. E de resposta: o silêncio. O mistério da vida. E eu, que sempre estive no controle, me perco, me descontrolo. E agora a única certeza que tenho é que jamais serei a mesma. Tudo dói, tudo! Dói pra respirar e dói pra viver. Eu acordo e tudo de novo. Isso quando durmo”, iniciou a apresentadora.
“Rael era a melhor mistura de Tati e Bruno. A mistura do nosso amor que, durante os últimos oito meses, só fez crescer. Ele nasceu perfeito, grandão que nem o pai, como já esperávamos. Só não vou poder saber se o meu maior desejo se realizaria. A cara do pai, mas com a personalidade da mamãe. Me resta seguir sonhando como a sonhadora que sempre fui. Mas como que sonha diante do pesadelo de perder um filho?”, completou.
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Luto perinatal
A nossa reportagem conversou com o psicólogo Alexander Bez, que explicou o “luto perinatal”, que ocorre quando a mãe perde um bebê durante a gestação, no parto ou até nos primeiros dias de vida da criança.
“O luto perinatal é uma dor intensa e profunda que, muitas vezes, não é totalmente compreendida pela sociedade. Trata-se de uma perda única, pois envolve não apenas a morte de um ser amado, mas também a interrupção de um futuro sonhado, de planos e expectativas que os pais já haviam começado a construir”, afirma o profissional.
Segundo Alexander Bez, esse luto envolve sentimentos de culpa, vazio, desamparo e pode ser marcado pela dificuldade de encontrar uma rede de apoio adequada. “Muitas pessoas ao redor, mesmo com boas intenções, não sabem como reagir ou acabam minimizando essa dor, o que pode aumentar ainda mais o isolamento dos enlutados”, diz.
Para o psicólogo, é fundamental que os pais que passam por essa experiência entendam que o luto é um processo e que cada um terá seu próprio tempo para vivenciá-lo. “A aceitação dos próprios sentimentos e o acolhimento das dores são passos importantes para a superação. Em casos como o luto perinatal, o apoio psicológico é essencial para auxiliar nesse processo de reconexão com a vida e no desenvolvimento de uma nova forma de significado. Esse apoio não apenas oferece um espaço seguro para a expressão de todas as emoções, mas também trabalha na construção de uma narrativa que respeite a memória desse filho e permita que os pais encontrem caminhos para seguir em frente.”
Acompanhamento psicológico para lidar com a morte do filho
O primeiro passo é começar a tratar os sintomas clássicos desse tipo de luto, que costumam surgir em uma sequência marcada por quatro fases:
- Desorientação – marcada por torpor, negação e isolamento agudo.
- Angústia – caracterizada pela busca simbólica pelo bebê perdido.
- Desespero – momento de dor contínua e profunda.
- Reorganização – fase em que se inicia uma reconstrução mental e uma reelaboração sentimental da perda.
Durante o acompanhamento psicológico, esses sintomas devem ser cuidadosamente trabalhados, com o objetivo de amenizar a dor da pessoa enlutada. A partir da superação da desorientação (primeira fase), torna-se possível avançar para a reorganização psíquica e, consequentemente, para a reconstrução emocional.
O uso de medicação também pode ser necessário. Ansiolíticos são comumente indicados para controlar a ansiedade intensa e, em alguns casos, antidepressivos podem ser associados, desde que haja indicação clínica. Os ansiolíticos, em especial, são essenciais para reduzir os sintomas emocionais agudos e permitir que o processo psicoterapêutico evolua com mais estabilidade.
A abordagem psicoterapêutica mais eficaz costuma ser a psicoterapia psicanalítica, que visa explorar e elaborar as emoções, promovendo um espaço seguro para que elas possam ser expressas e ressignificadas.
À medida que o tratamento psicoterapêutico, aliado à medicação, começa a reduzir a ansiedade, a pessoa pode, aos poucos, retomar atividades físicas, sociais e familiares. Nessa fase de transição entre a dor intensa e a recuperação, a participação em grupos de apoio também pode ser extremamente benéfica.
Por fim, na etapa final da psicoterapia, é importante trabalhar possíveis processos inconscientes de culpa, muitas vezes presentes em casos de perda gestacional ou neonatal. A autocompaixão e a liberação do sentimento de autopunição são fundamentais para que a pessoa possa, dentro do possível, alcançar um estado de cura emocional.