O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), alçou o governador Tarcísio de Freitas (Republlicanos) ao papel de protagonista em fase decisiva de sua campanha pela reeleição na cidade.

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Termômetro político

Com um cabo eleitoral nacional, Jair Bolsonaro (PL), que participa timidamente da campanha — em parte porque aliados do prefeito temem que o ex-presidente transfira ao candidato incumbente parte de sua rejeição em regiões periféricas da cidade, onde o emedebista tem bom desempenho — e chegou a dizer que é “cedo” para fazer esse papel, o mesmo não pode se dizer do padrinho estadual.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Ricardo Nunes e Bolsonaro: ex-presidente apoia reeleição do prefeito, mas tem participação tímida na campanha (Crédito:Reprodução/Alesp)

Ainda na pré-campanha, coube ao governador anunciar o coronel da reserva Ricardo Mello Araújo (PL) como candidato a vice do aliado e fazer um discurso extenso na convenção partidária que oficializou a candidatura de Nunes à reeleição.

Mas as primeiras semanas oficiais da corrida — a partir de 16 de agosto — foram um “termômetro” para Nunes e seu entorno. O prefeito brigava com Guilherme Boulos (PSOL) pela liderança nas pesquisas de intenção de voto e promovia essencialmente obras e programas de sua administração — para conquistar, inclusive, eleitores do presidente Lula (PT) que não associavam o psolista ao petista.

A migração agressiva de eleitores paulistanos de Bolsonaro para Pablo Marçal (PRTB), no entanto, rendeu uma bronca do ex-presidente em Nunes e a promessa de abraçar pautas ideológicas na campanha, com o objetivo de evitar novas debandadas. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o emedebista tem um “arquivo” de materiais de propaganda com o padrinho a fim de usar caso Marçal volte a ameaçá-lo nesse setor do eleitorado.

Padrinho predileto

Ainda com receio de perder espaço entre eleitores menos identificados com a direita, no entanto, a campanha de Nunes encontrou em Tarcísio o “meio termo” ideal na empreitada pela reeleição.

Disposto a mergulhar na campanha, o governador intensificou a participação em agendas e gravou uma série de materiais publicitários para o emedebista. Mas o uso de tudo isso se intensificou nos últimos dias.

Em 49 publicações de Nunes no Instagram entre 17 e 19 de setembro, Tarcísio foi usado explicitamente em oito — vale registrar que, no período, houve debates, entrevistas e agendas sem a participação do padrinho.

Alguns desses posts exibem apenas uma fala de apoio do governador, que tem dado entrevistas e participado de podcasts para elogiar o aliado. Nas agendas conjuntas, a legenda da publicação menciona a presença de Tarcísio antes de relatar o bairro ou razão do compromisso. Em “cortes” de entrevistas, Nunes chama o ex-ministro de “irmão”.

Na quinta-feira, 19, um vídeo no perfil do prefeito tentou emplacar a alcunha “NunesTar”, junção do nome de ambos, em substituição do emblema oficial do candidato — movimento usado em outros pleitos para evocar o voto conjunto, como “BolsoDoria”, nas eleições de 2018, em alusão a João Doria (então no PSDB) e Bolsonaro.

Nunes também levou Tarcísio ao rádio e à televisão, onde tem seis minutos e meio a cada bloco de horário eleitoral e dezenas de inserções (spots comerciais curtos) espalhados pelas programações de emissoras abertas.

A campanha teve de suspender a exibição de uma inserção que tinha 25 de seus 30 segundos ocupados pelo governador, por determinação do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral). A Justiça Eleitoral limita a 25% o tempo que apoiadores de um candidato podem ocupar de suas peças publicitárias — inserções ou programa eleitoral.

Nela, Tarcísio pregava o chamado “voto útil” para derrotar a esquerda na capital paulista, afirmando que a ida de Marçal ao segundo turno seria a “porta de entrada para Boulos”. O mote eram os resultados de pesquisas que mostravam o psolista derrotando o empresário no embate — o contrário do que acontecia contra Nunes.

O vídeo era um trunfo do emedebista para “tomar de volta” eleitores que rejeitam a esquerda, mas bandearam sua intenção de voto para Marçal. No momento mais delicado da campanha, restou “chamar Tarcísio”.

Nas primeiras amostras desde a mudança de estratégia, Nunes liderou as intenções de voto em pesquisa Quaest, com 24%, e viu Marçal oscilar negativamente, caindo para 20%. No levantamento do Datafolha divulgado na quinta, 19, viu a vantagem sobre o candidato do PRTB em eventual segundo turno chegar a 35 pontos — 60% a 25%.

A receita deu sinais positivos e permitiu que Nunes respire mais aliviado até 6 de outubro, data do primeiro turno. Caso avance, contudo, a campanha poderá ter de fazer novos testes e associações a depender do confronto — no segundo turno das eleições de 2022, vale lembrar, Tarcísio recebeu 45,59% dos votos e foi derrotado por Fernando Haddad (PT, 54,41%) na cidade.