Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, criticou o pedido do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para que sua gestão explique em até 24 horas a construção de um muro na região conhecida como Cracolândia, no centro da capital paulista.
“Não tem decisão do ministro Alexandre e não existe nenhum fundamento legal para qualquer decisão. Que decisão ele tomaria? Volta o tapume?”, disse o emedebista nesta sexta-feira, 17. “Fazer um ofício hoje, para fazer um ministro do STF perder tempo por um negócio que aconteceu em maio do ano passado, é amplamente sem nexo. Eu particularmente fico sem entender qual é o objetivo disso“.
No pronunciamento, Nunes ainda criticou entidades da sociedade civil que questionaram a construção. “As pessoas estão muito desocupadas, ficam criando coisas. Gostaria muito que eles pudessem fazer o que a gente tem feito, a nossa equipe de saúde, assistência social”, afirmou.
O muro da Cracolândia
De um lado da Cracolândia, na Rua dos Protestantes, há gradis instalados pela prefeitura. Do outro, na General Couto de Magalhães, fica o muro de concreto, com 40 metros de comprimento por 2,5 metros de altura. A construção foi concluída em maio de 2024.
Segundo a gestão Nunes, o objetivo do muro é garantir segurança, acesso e atendimento às pessoas que ocupavam o terreno público, e não promover confinamento. Dados da administração apontam que, em média, tem havido 139 integrantes do fluxo durante o período vespertino em janeiro. À noite, são cerca de 240 pessoas. No mesmo recorte do ano passado, eram 524 pessoas no período diurno e 544, no noturno.
A Defensoria Pública do Estado recomendou na quarta-feira, 15, a retirada de gradis e demais barreiras físicas colocados na Cracolândia. Em relatório de junho do ano passado, logo após a repercussão da instalação de gradis, o órgão chegou a comparar o local a um “curral humano”.
Especialistas ouvidos pelo site IstoÉ classificaram a medida como imediatista e pouco efetiva para reduzir os problemas de segurança que afetam a região. “Me parece que a prefeitura quis adotar uma medida imediatista com a construção do muro, porém isso não traz benefícios a médio e longo prazo. É necessário o investimento e fortalecimento de políticas públicas que têm caráter mais intersetorial”, disse Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz.