O biólogo Horácio Manuel Santana Teles foi o convidado da live de ISTOÉ nesta terça-feira, 22. Na conversa com o diretor de redação da revista, Germano Oliveira, ele falou sobre as vacinas contra a Covid-19, avaliou o programa brasileiro de combate à pandemia do coronavírus e o surgimento das variáveis do vírus. Teles é membro da comissão de saúde do Conselho Regional de Biologia e pesquisador científico da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) em São Paulo. “As vacinas não impedirão a transmissão do Coronavírus. O que vamos ter é a redução da mortalidade. Estamos numa situação de alerta, grave.”

Teles entende que a vacina contra a Covid-19 não é a “bala de prata” para os governantes – uma metáfora para designar uma solução simples para um problema complexo com grande eficiência – que vai colocar um ponto final da crise sanitária que assola o mundo. Para ele, o vírus transitará por um longo tempo e que no caso brasileiro, mesmo que a vacinação comece nos primeiros meses do ano que vem, o país vai terminar 2021 com o novo coronavírus ainda andando por aí perigosamente. “Nós estamos no mar revolto cheio de ondas”, diz.

Na conversa, o pesquisador avalia que os altos índices de mortalidade pela doença e casos de infectados no Brasil são, sim, responsabilidade do presidente Bolsonaro e do governo federal, que de forma irresponsável optou pelo negacionismo da Covid. “Nossos governantes precisam mudar o discurso e promover a solidariedade entre o seu povo. Nós nos espelhamos nos nossos líderes. O presidente Bolsonaro é um péssimo exemplo de liderança no enfrentamento à Covid.” Para Teles, o menosprezo de parte da população pela doença é fruto de decisões políticas. “As mortes e os casos refletem o descaso das autoridades.”

Segundo Teles, as novas linhagens do novo coronavírus que estão surgindo não vão acabar com a eficácia das vacinas e que as respostas aos casos serão dadas pela ciência, na mesma velocidade do surgimento delas. “As mutações ainda não se mostraram uma preocupação exacerbada.” No entanto, ele adverte que o agravamento da crise sanitária pode se dar pelo enfraquecimento das medidas protetivas contra a doença. “O enfrentamento à Covid tem que se dar de forma permanente. Nunca mais a gente vai voltar àquele normal antes da pandemia”, afirma.

Na entrevista, o pesquisador científico da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) em São Paulo avalia que a politização da imunização contra o Covid é um absurdo e que o governo federal ficou o tempo inteiro preocupado em desacreditar a gravidade da doença em vez de tomar medidas para o enfrentamento. “Perdemos o bonde da história. Vacina não tem marca ou ideologia. Ela é um produto. Foi uma atitude infantil e boba do governo Bolsonaro. Não temos um plano nacional de imunização, não temos produção. O Brasil ficou pra trás de tudo. Vai faltar seringa, insumo. É lastimável”, afirma.

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Para Horácio Teles, o Brasil perdeu o privilégio da compra das vacinas e que isso, inevitavelmente, trará problemas à população. “Tá faltando articulação, um olhar científico para as coisas. Precisa-se enfrentar os desafios de forma igualitária, porque a gente vai ficar vulnerável”. Para Teles, o mundo só vai controlar a Covid quando tiver uma política internacional de imunização. “Em 2021 viveremos a pior e mais forte crise humanitária da história da humanidade, por conta da Covid. Ela vai acentuar o que há de pior nas diferenças entre riqueza e pobreza”, conclui.


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