Nunca antes na história desse País houve um personagem como Luiz Inácio Lula da Silva. Líder popular forjado na luta sindical, disputou a Presidência três vezes antes de conquistá-la, para depois vencê-la novamente antes de eleger sua sucessora – para então vê-la cair em desgraça e arruinar seu legado. Foi preso, humilhado, tratado como o maior vilão do Brasil. Assistiu à morte da mulher de sua vida, mas teve forças para vencer a tragédia por meio de um novo amor. O clichê exige que lhe chamemos de Fênix, pois apenas um ser que renasce das cinzas voltaria ao poder nos braços do povo depois do abismo que superou.

Lula mostrou que foi sagaz o suficiente para se eleger como “Lulinha paz e amor”, mas também demonstrou ser mestre na arte da guerra quando foi necessário. Na eleição mais violenta do Brasil, o anti-bolsonarismo provou ser maior que o anti-petismo. Lula derrotou o homem que se vendia como um poderoso “mito”, mas na hora H virou um “mico”: deu uma banana para seus seguidores e fugiu para o exterior como um animal acuado e com o rabo entre as pernas. A quantidade de crimes que cometeu o manterá distante por tempo indeterminado, pois lhe faltará coragem para encarar a Justiça. Nunca antes na história desse País viu-se covardia tão explícita. A democracia brasileira, com todos os seus defeitos e falhas, venceu.

Hoje Lula sobe a rampa do Planalto mais uma vez. É motivo para o Brasil comemorar. Sua eleição significa que nossos problemas estão automaticamente resolvidos? Longe, mas muito longe disso. A corrupção sistêmica que o PT adotou nos governos passados precisa ser extirpada desde o primeiro dia. Todo mundo fazia? Sim, mas o PT tornou o dízimo partidário uma política de Estado. Outra coisa que deve ser enfrentada a partir de 1 de janeiro é o pensamento arcaico que certas figuras do partido insistem em manter em relação à economia, política externa e tantos outros assuntos. Olha mais para o século 22 e menos para o século 19 pode ser um bom começo.

A posse de Lula é apenas o primeiro passo para voltarmos a uma relativa normalidade, sem ministros exóticos e gente que tinha como missão destruir as instituições brasileiras. A volta da política, como todos os defeitos que ela tem, é um alívio. Lula sobe a rampa acompanhado pelo ministério com mais mulheres e negros da nossa história, vitória da população que exigiu ser melhor representada. Infelizmente, terá que negociar com um Congresso ainda sob influência bolsonarista, uma prova de que o mal causado pelo pior líder que já ocupou o Palácio do Planalto está longe de terminar. Basta lembrar que quase metade do País marcou seu nome na urna eletrônica.

A vergonhosa fuga para os EUA do covarde que ocupava a Presidência, quem diria, foi criticada até por seu próprio vice-presidente, Hamilton Mourão. Nunca antes na história desse País um general teve de vir a público para lavar as mãos e se despedir da população tentando limpar a barra das Forças Armadas. Mas a verdade é que grande parte dessa instituição foi contaminada por um golpismo abjeto de ocasião, comprado com milhares de cargos e altos salários, próteses penianas e pílulas azuis superfaturadas.

“Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de País deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social e de forma irresponsável deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe”, afirmou Mourão.

Em outras palavras: calado, Bolsonaro foi um moleque irresponsável; quando falou, foi protagonista do caos e da desagregação social. Nunca antes na história desse País alguém havia causado tanto mal à própria população. É com grande felicidade que escrevo, não apenas como jornalista, mas como brasileiro: já vai tarde.

Boa sorte ao governo Lula.