13/09/2019 - 9:30
Super-heróis, esses das histórias em quadrinhos, não surgem por acaso. Sempre há um contexto histórico qualquer que acaba por precipitar seu surgimento. O Super-Homem, por exemplo, apareceu logo depois da Grande Depressão. Do que mais os Estados Unidos necessitavam naquele momento, senão super-homens? Um imigrante de outro planeta que se junta ao esforço de reconstrução da economia americana e, dali em diante, estará presente em praticamente todos os eventos políticos, sociais e econômicos relevantes. Clark Kent/Kal-El é uma metáfora da força extraordinária do homem comum.
Outro exemplo é o Capitão América. Nascido na Segunda Guerra, ele aparece literalmente socando Hitler. Em 1950, derrotado o inimigo, ressurge lutando contra o comunismo. Martin Luther King Jr. inspirou Falcão e Luke Cage, os primeiros super-heróis afro-americanos. A verdade é que há séculos os mitos impressos nas histórias de heróis, super ou não, servem para traduzir os dilemas das sociedades para nós, os mortais. É o que dizem os estudiosos.
O que ninguém explica, no entanto, é a inexistência de heróis contemporâneos. Como é que num mundo tão mudado como o de hoje, onde a política se volta ao conservadorismo enquanto a sociedade reage contra preconceitos, nem um único novo super-herói surgiu para nos guiar? Até quando vamos continuar assistindo reedições de personagens Marvel e DC? Oportunidade é o que não falta.
Como nenhum autor chamou para si a responsabilidade, suspeito que estejam tentando separar o que é realidade do que é fantasia. Por isso, resolvi deixar aqui algumas sugestões de super-heróis que poderiam, quem sabe, nos dar a esperança de dias melhores no futuro. Vamos a eles:
Bom-Senso Man
Trata-se de uma versão modernizada do Homem-Aranha. Em vez de teias, ele dispara fitas adesivas calando a boca de políticos que estão falando bobagens. Nos primeiros números, Bom-Senso Man usará seus poderes apenas contra o presidente Trump, mas temendo ficar sem fita adesiva, decide vir ao Brasil, na esperança de ser menos requisitado. Depois de uma semana no Distrito Federal, decide voltar para Washington, DC.
Crivellen
É o primeiro super-herói trans da história. Sua missão é acabar com toda e qualquer forma de preconceito. Vive no Rio de Janeiro e é constantemente perseguido pela polícia, que quer tirá-lo de circulação, mesmo depois do STF ter autorizado sua atividade.
SuperLiberal
O defensor dos liberais oprimidos. Sempre que a política de liberdade econômica que o presidente eleito prometeu quando candidato fica ameaçada, SuperLiberal surge com seu uniforme militar e capa verde e amarelo para distribuir verbas aos deputados a fim de garantir a aprovação de algum projeto.
Pastor Prateado
No passado, este herói foi dono de uma igreja evangélica. Como não aceitou fazer acordos com políticos, sua obra faliu. Hoje Pastor Prateado passa seus dias lutando para separar Estado e Igreja. Não tem poder nenhum, coitado.
Clima Woman
Uma super-heroína inspirada na Maju, do Jornal Nacional. Clima Woman tem o poder de congelar qualquer político que não acredite no aquecimento global. No primeiro episódio de sua HQ, Clima Woman congela Trump. No segundo, Bolsonaro. No terceiro, a heroína se aposenta após salvar o mundo e ficar sem o que fazer.
Estes são alguns dos novos heróis possíveis. Na próxima semana trataremos dos vilões, em especial Peruca Dourada, que pretende destruir o mundo apenas espalhando mentiras. Há também Sputnik, vilão russo à moda antiga, desses que querem a volta da Guerra Fria. O maior de todos é o brasileiro Eleitor Maluco, que a cada quatro anos faz o tempo andar para trás.
Seremos salvos por um mascarado que cala a boca de políticos, um supertrans perseguido pela polícia e um pastor que sonha separar igrejas e estado