O governo do Líbano, que enfrenta uma mobilização popular inédita em anos, adotou nesta segunda-feira várias reformas bloqueadas há tempos, mas não conseguiu aplacar o descontentamento dos manifestantes contra a classe política, acusada de afundar o país.

Enquanto as ruas do Líbano registram protestos há cinco dias, o governo realizou um conselho de ministros extraordinário, com a presença do primeiro-ministro Saad Hariri e do presidente Michel Aoun.

Hariri prometeu “um orçamento para 2020 sem impostos adicionais para a população”, uma queda de 50% nos salários do presidente e ex-presidentes, dos ministros e deputados, e novos impostos para os bancos.

Ele também afirmou que apoia a convocação de eleições antecipadas, como desejam os manifestantes que protestaram contra o governo nos últimos dias.

“Nós escutamos. Se o seu pedido é de eleições parlamentares antecipadas (…) eu, Saad Hariri, estou com vocês neste pedido”, disse.

Hariri afirmou que as decisões não foram adotadas para acabar com os protestos.

“O governo não pretende pedir que parem de protestar e expressar sua indignação”, completou.

A imprensa libanesa afirma que o objetivo do Executivo é provocar um “choque”, com a promessa de reformas, algo impossível até o momento pelas disputas e divisões políticas.

Nos últimos anos, o nível de vida dos libaneses piorou, com cortes frequentes do fornecimento de água e energia elétrica, 30 anos após o fim da guerra civil (1975-1990).

A imprensa libanesa considera esta segunda-feira o dia da verdade para o governo. O jornal L’Orient Le Jour questiona se o plano, que prevê a princípio medidas concretas e rápidas, bastará para acalmar os manifestantes.

Desde o início da manhã, manifestantes bloqueavam avenidas em todo o país. A convocação para os protestos era cada vez mais intensa nas redes sociais.

Bancos, universidades e escolas permanecerão fechados nesta segunda-feira.

No domingo, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para exigir uma mudança radical de um sistema político acusado de corrupção e clientelismo, em meio a uma grave crise econômica.

De Beirute até a cidade de maioria sunita de Trípoli, ao norte, passando pelas cidades xiitas do sul e as localidades drusas ou cristãs do leste, os libaneses demonstraram uma inédita unidade para criticar os políticos.

Aos gritos “revolução” ou o “o povo quer a queda do regime”, milhares pessoas invadiram o centro da capital.

O movimento nasceu de forma espontânea na quinta-feira, após o anúncio de uma tarifa para as ligações feitas pelo aplicativo de mensagens WhatsApp, medida que foi cancelada por pressão das ruas.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro Saad Hariri deu prazo de 72 horas a sua frágil coalizão para que apoie suas reformas bloqueadas pelas divisões políticas. Mas o discurso foi interpretado pelos manifestantes como uma tentativa de salvar a classe política.

De acordo com fontes do governo, o plano elaborado por Hariri recebeu no domingo a aprovação dos partidos da coalizão, dominada pelo Movimento Patriótico Livre, próximo a Aoun e ao Hezbollah.

Entre as medidas esperadas, o governo deve prometer não impor mais impostos e adotar um importante programa de privatizações.

Mas as mudanças prometidas não parecem suficiente para acalmar os manifestantes.