A diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Maria Netto, afirma que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, assinada pelo Presidente Donald Trump, tem efeito importante nas discussões sobre o combate e o financiamento para o combate ao aquecimento global. A afirmação foi feita durante sua palestra no “Seminário Socioeconomia do Clima”, realizado no Centro do Rio de Janeiro no último domingo (25)..
“O impacto é significativo, não há como negar. Trata-se de um dos maiores emissores globais, além de um país que possui obrigações importantes no financiamento climático. Portanto a sua saída causa, sim, um impacto relevante. Ao mesmo tempo, de forma até irônica, a atual polarização tem provocado uma reação: países como China e os da União Europeia passaram a assumir posições mais proativas dentro dos debates. Os EUA são importantes, mas não necessariamente mais relevantes do que outros protagonistas que também vêm ampliando sua atuação”, afirmou.
Em ano em que o Brasil irá receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, em Belém (PA), Maria Netto destacou que é preciso promover mecanismos de financiamento mais flexíveis, pois um “desincentivo” ou uma tensão para não valorizar os investimentos em clima e natureza afeta diretamente as tendências globais. Segundo ela, não é mais possível depender apenas do financiamento público para se obter recursos para combater as mudanças climáticas.
“Precisamos considerar todas as fontes de recursos para lidar com os desafios climáticos. Precisamos discutir que a mobilização de recursos passa não apenas pela quantidade, mas pelo tipo de financiamento: precisamos de recursos de longo prazo, capazes de apoiar investimentos em capital fixo e adequados à natureza dos projetos, seja em restauração ambiental, energias renováveis ou novas tecnologias”, disse.
De acordo com Maria Netto, a agenda climática extrapola as negociações entre países e se consolida como uma agenda de desenvolvimento, fortemente vinculada ao financiamento. Conta que, quando há um desincentivo ou uma resistência em valorizar investimentos voltados ao clima e à preservação da natureza, há, sim, um impacto nas tendências. E, justamente por isso, na opinião dela, torna-se ainda mais necessário promover mecanismos que ofereçam maior flexibilidade.
Com as mudanças no clima afetando cada vez mais a vida da população do planeta, Maria Netto afirma que o Brasil já possui políticas públicas voltadas para essas questões, mas precisa mostrar, nessa agenda de ação, o quanto consegue efetivamente implementar as transformações necessárias na prática.
A diretora do iCS diz que é preciso mostrar como o setor privado e a economia brasileira podem demonstrar, daqui para frente, um compromisso real com essa pauta.
“A COP é um evento importante, mas, olhando para os próximos 10 anos, precisamos entender que esse é um momento de implementação. Não basta olhar apenas para o evento em si, mas pensar: o que será feito a partir daqui? Esse é um ponto crucial: criar institucionalidade no Brasil, para assegurar que estamos acompanhando e controlando esse processo. Não se trata, necessariamente, de uma agenda negativa”, destacou.
Profissional com uma grande experiência em relação às mudanças do clima, Maria Netto trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e tem trabalhos destacados na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).
O evento no Rio de Janeiro, que contou com a participação de outros especialistas em mudanças do clima, contou com a presença de 19 jornalistas de 16 veículos de comunicação de todas as regiões do Brasil.