A deterioração do mercado de trabalho no Brasil avançou de forma alarmante nos últimos dois anos. Segundo relatório do banco Credit Suisse, o País entrou para o grupo de recordistas mundiais do chamado desemprego ampliado, indicador que leva em conta quem não se considera fora do mercado de trabalho por estar vivendo de bicos ou por ter desistido de procurar emprego. Por essa conta, o desemprego no Brasil seria de 21,2% no final de 2016 – quase o dobro do índice oficial de 11,8% divulgado pelo Ministério do Trabalho. Depois de 22 meses seguidos de demissões, as empresas brasileiras voltaram a contratar. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na quinta-feira 16, em fevereiro foram criadas 35.612 vagas formais. A última vez que o País registrou um número positivo assim foi em março de 2015, quando 19.282 pessoas tiveram suas carteiras de trabalho assinadas. A reviravolta positiva na taxa de empresa é um sinal claro de que a economia do País está em recuperação. Felizmente, não é o único.13

A alta do desemprego faz o orçamento cair e, muitas vezes, virar quase zero. Todos esses fatores, somados, obrigam as pessoas a fazer uma escolha: selecionar as contas mais urgentes para quitar, como aluguel, alimentação e outras mais emergenciais. O problema é que algumas acabam ficando para depois e o débito com os credores aumenta gradativamente até que em um dia qualquer, entre todas as correspondências, chega um comunicado do Serasa informando que o nome está “negativado” e, com isso, até que a dívida seja quitada, o CPF não será aceito para aprovação de compras de bens de maior valor, contratos de aluguel de imóveis, financiamentos e nem mesmo abertura de conta em banco.

35,6 mil empregos com carteira assinada foram criados em fevereiro. foi a primeira alta desde março de 2015

Em 2016, o Brasil abriu o ano com o recorde de 59 milhões de inadimplentes. Este ano, o cenário é outro. Segundo dados da Boa Vista SCPC, empresa que atua na prevenção contra fraudes financeiras e oferece soluções para , a inadimplência do consumidor atingiu queda de 8% no comparativo com janeiro deste mesmo ano. No acumulado dos últimos 12 meses (março de 2016 a fevereiro de 2017), a redução foi de 3,5%. A publicitária Ana Laura Oliveira, de 25 anos, entra nessa estatística. Entre janeiro e fevereiro, ela percebeu que o seu cartão de crédito estava bloqueado. Quando foi ao banco, descobriu que seu nome estava negativado pelo Serasa por conta de uma dívida de mais de R$ 700 de uma mensalidade da faculdade em que se formou em 2015, em Minas Gerais. Sem dinheiro para para quitar o débito, Ana entrou em desespero. Para sanar as contas do apartamento que mora com o namorado, ela se divide entre o trabalho formal e outros como “freelancer”. “Infelizmente, tive que pedir para o meu pai pagar para mim e ele fez o parcelamento em sete vezes”, conta. Para não correr o risco de ter seu CPF sujo novamente, ela economiza o máximo que pode. “Graças aos freelas, sempre conseguimos sair das dívidas.”

RECUO NOS PEDIDOS DE FALÊNCIA
Segundo Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC, as adversidades ocorridas na economia ao longo dos últimos anos geraram cautela nas famílias, o que fez diminuir o consumo. Além disso, a retração do crédito também auxiliou na queda da inadimplência. “O consumidor está tomando menos créditos e o comércio varejista está em queda”, explica Calife. “Tudo isso acaba gerando menos dívidas.”  Para Fábio Araújo, sócio e diretor de Operações da MFM, empresa de desenvolvimento de softwares que atende o mercado de crédito e cobrança, a tecnologia também é primordial para diminuir as novas dívidas.“O mercado de recuperação de crédito trabalha com margens baixas e alto risco, com isso, é praticamente obrigatório o investimento em novos meios de cobrar o devedor”, diz Fábio. “O mote deve deixar de ser apenas ‘recuperar o crédito’ ou simplesmente ‘cobrar’. O objetivo deve ser restabelecer a relação de consumo.”

“Há uma tendência de melhora do mercado de trabalho ao longo do ano e isso ajuda nas condições de pagamento dos consumidores” Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC

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Para os próximos meses, a perspectiva é que o cenário continue sendo de menos dívidas e mais vagas de emprego para os brasileiros. “Nós achamos que esses números devem continuar”, diz Calife. “Há uma tendência de melhora do mercado de trabalho ao longo do ano e isso ajuda nas condições de pagamento dos consumidores.” O otimismo é reforçado por outra boa notícia divulgada pela msma Boa Vista SCPC: os pedidos de falência recuaram 13,5% em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2016.


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