Fale a verdade: existe expressão mais insuportável que esse tal “novo normal”? Não sei quem foi o infeliz que a inventou, mas deve ser irmão gêmeo do outro infeliz que, em um belo dia de 2019, acordou entediado, sem ter o que fazer, e resolveu espalhar esse maldito novo coronavírus por aí, apenas para infernizar a vida de 7,5 bilhões de terráqueos.

Eu não sei quando, se daqui seis meses ou um ano, essa pandemia-da-peste vai acabar. Também não sei se, por uma vacina ou pelo curso normal dessas doenças, mas vai acabar. E não será por causa do negacionismo estúpido de certas pessoas. Mas o fato é que, até que Covid-19 seja apenas um triste verbete, esquecido na letra C de um dicionário mofado qualquer, nada estará normal.

Porque normal é poder andar por aí sem essas ridículas máscaras bico-de-pato. É não arder cada cutícula de unha com 100 kg de álcool em gel a cada cinco minutos. É se estapear para comer aquele pastel da feira, quentinho, ali mesmo, com as mãos entupidas de germes e bactérias. É fungar no cangote do sujeito à frente, na fila da padoca. É (que saudade!) abraçar e beijar aquele suadão desconhecido, bem na hora do gol do Galo. Ou do Timão, do Porco, do Mengão…

Não poder abraçar os pais, beijar os avós, tomar uma gelada com a galera no boteco não é “novo normal”, é simplesmente anormal. Fingir que a vida está retomando seu curso, aí, sim, normal, agora, é o mesmo que acreditar que Jair Bolsonaro ficará calado, sem dizer nenhuma besteira pelas próximas 12 horas. É querer se enganar, mentir para si mesmo. Não existe meia gravidez. Ou existe normal ou não existe.

O dia em que eu, você e todos nós pudermos ser o que éramos no início de fevereiro deste ano, aí, meu chapa, estaremos normais. Nada de “novos normais”. Nada de João Doria, todo santo dia, na hora do almoço, palestrando sobre vírus como quem apresenta o budget anual da empresa numa reunião de acionistas. Nada de contagem diária de mortos e quebra de recordes fúnebres em horário nobre.

Aliás, bem mesmo faz o governador mineirin, Romeu Zema: sai da toca a cada dez ou quinze dias e, por no máximo 15 segundos, diz: “ei, genti; aqui em Minas tá tudo bão; inté”. Em boca fechada não entra mosquito. Em estado que não há testes, não há “covidados”. A não ser que cachaça da boa funcione tão bem quanto vodca, conforme recomendou o presidente da Bielorrússia (este, sim, um mito à altura do nosso Capitão Cloroquina).

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Da próxima vez que ler ou ouvir “novo normal”, lembre-se de mim. E grite bem alto: “Ricardo tem razão!”. Meu sonho é ser popstar de internet, igual o Olavão.


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