O Museu do Louvre, na França, poderá ceder peças de sua coleção egípcia ao Museu Nacional, do Rio, destruído por um incêndio em setembro. O diretor da instituição brasileira, Alexander Kellner, esteve reunido na terça-feira, 4, em Paris com o presidente do museu francês, Jean-Luc Martinez, de quem ouviu a promessa do empréstimo de longo prazo de peças.

“Ele se interessou muito pela situação do museu e prometeu, inclusive, nos fazer uma visita no ano que vem. Ele está muito interessado em saber como anda a reconstrução do Museu Nacional”, contou Kellner. “E uma vez que a gente estiver pronto, ele já acenou para a possibilidade de um empréstimo de material do Louvre por longo termo. Estamos muito animados com isso.”

Uma das maiores perdas no incêndio que destruiu a instituição foi justamente parte da coleção egípcia, listada entre as mais importantes do mundo e a maior da América Latina. Grande parte dela foi trazida ao País pelo primeiro imperador do Brasil, d. Pedro I.

De acordo com o catálogo do Museu Nacional, a maior parte do acervo egípcio foi comprada em um leilão, em 1826, pelo monarca. Não há registro preciso sobre a procedência das peças, mas acredita-se que elas tenham vindo de Tebas – onde hoje fica a região de Luxor, no sul do país africano.

Três múmias desta coleção eram consideradas particularmente importantes e se perderam: a de Hori, um alto funcionário da hierarquia egípcia que viveu por volta de 1.000 a.C.; a Harsiese, que também teria um cargo importante e viveu por volta de 650 a.C.; e uma múmia feminina datada do século 1.º, sobre a qual se tem poucas informações. O que a tornava rara e preciosa era a técnica usada para enfaixá-la, envolvendo braços, pernas e dedos das mãos individualmente. A peça considerada a mais importante da coleção, no entanto, era o esquife (caixão) da dama Sha-amun-em-su, ricamente trabalhado. Em 1876, quando visitou o Egito, o imperador dom Pedro II o ganhou de presente e o manteve em seu gabinete até a proclamação da República, em 1889, quando a peça passou a integrar a coleção do Museu Nacional.

Mas nem tudo da civilização antiga se perdeu. Nos meses seguintes ao incêndio, pesquisadores localizaram cerca de 200 itens da coleção egípcia que puderam ser resgatados.

“O material que querem emprestar é variável: peças egípcias, mas também greco-romanas, além de outras coisas que possam interessar a gente”, disse Kellner. “É muito legal.”

Até abril, o Museu Nacional também havia recebido R$ 150 mil do British Council e cerca de R$ 800 mil – que podem chegar a R$ 4,4 milhões – do governo da Alemanha. A reconstrução do espaço está estimada em cerca de R$ 100 milhões.

Incêndio

O acervo de 12 mil peças do Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio, foi consumido pelo fogo em 2 de setembro. Era o mais antigo centro de ciência do País, com 200 anos. O local reunia algumas das mais importantes peças da história natural do País, como Luzia, o esqueleto mais antigo já achado nas Américas.

Em abril, a Polícia Federal apresentou o laudo da investigação do incêndio e apontou como causa mais provável das chamas um curto-circuito em um de ar-condicionado, localizado no auditório do térreo do edifício. A conclusão dos peritos servirá como base ao inquérito da PF para apontar possíveis responsáveis, que poderão responder criminalmente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.