A pressão aumentou nesta segunda-feira (23) na França sobre Damien Abad, recém-nomeado ministro pelo presidente Emmanuel Macron, depois que duas mulheres o acusaram no fim de semana de tê-las estuprado, fatos que o político nega.

“Se eu fosse primeiro-ministro, diria a Damien Abad: ‘Não tenho motivos para pensar que as mulheres mentem (…) à espera de uma decisão judicial, quero que você não esteja no governo'”, comentou à rádio France Inter o líder do Partido Socialista (PS), Olivier Faure.

O site de notícias Mediapart publicou no sábado uma investigação em que duas mulheres acusam o político de 42 anos de tê-las estuprado em 2010 e 2011. A Promotoria de Paris arquivou em 2012 e 2017 duas denúncias de uma das denunciantes.

O escândalo acontece quando Macron tenta dar impulso ao seu novo mandato após reeleição em 24 de abril, com a primeira reunião de seu novo governo nesta segunda-feira, e com o objetivo de alcançar uma maioria absoluta nas eleições legislativas de junho.

As acusações contra Abad também colocam em questão o envolvimento do presidente centrista na luta contra a violência sexista, especialmente quando em 2020 ele nomeou Gérald Darmanin como ministro do Interior, apesar de o mesmo enfrentar uma denúncia de estupro.

“O governo está com as mulheres que, após um ataque ou assédio, têm a grande coragem de se manifestar”, mas cabe à justiça “estabelecer a verdade”, reagiu a porta-voz do governo, Olivia Grégoire, expressando o ponto de vista de Macron.

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O Observatório da Violência Sexual e Sexista na Política, criado em novembro por ativistas, afirma ter alertado o partido no poder e a antiga formação do ministro (Os Republicanos, à direita) antes de sua nomeação.

“Nosso objetivo era que ele não fosse ministro”, comentou Mathilde Viot, cofundadora do Observatório, ao jornal Libération, para quem “ele não poderá realizar tranquilamente” seu trabalho no ministério da Solidariedade, Autonomia e Pessoas com Deficiência.

Embora o Observatório indique ter alertado o partido de Macron em 16 de maio, seu delegado geral, Stanislas Guerini, assegurou que viu o e-mail um dia após a nomeação.

A primeira acusação de estupro remonta a 2010. Segundo o Mediapart, o político teria proposto uma taça de champanhe num bar de Paris à suposta vítima, que tem atualmente 41 anos e que assegura que foi “drogada”.

“E depois, ‘apagão’ total, até a manhã seguinte”, testemunha a mulher, que diz ter acordado ao lado dele “num quarto de hotel perto do bar”, em “profundo estado de choque e desgosto”.

A outra mulher o acusa de tê-la estuprado no início de 2011. Abad, que conheceu dois anos antes, teve uma relação sexual com ela uma noite, primeiro consensual e depois forçada, marcada “pela falta de respeito, exigência e insistência”. Ela foi a uma delegacia em 2012 e o denunciou por “estupro” em 2017.

As denúncias foram arquivadas: a primeira por inação da denunciante, que não deu continuidade ao processo, e a segunda por não dar todas as informações do crime, disse a Promotoria de Paris.

“Rejeito veementemente as acusações, que se referem a atos ou gestos que são simplesmente impossíveis para mim por causa da minha deficiência”, disse Abad à AFP, que sofre de artrogripose, uma doença rara que bloqueia suas articulações e reduz sua mobilidade.

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