Mesmo com Zema, Novo virou ‘linha acessória’ em MG, diz vereadora

Marcela Tropia afirma haver pressão interna e da família Aro para que ela deixe partido; direção estadual nega

Romeu Zema
Romeu Zema, governador de Minas Gerais, em entrevista à IstoÉ Foto: Ana Nobre/ISTOÉ

Quinta vereadora mais votada de Belo Horizonte em 2024, Marcela Tropia (Novo) relatou à IstoÉ que vem sofrendo pressão interna para deixar o partido antes das eleições de 2026 por suas posições independentes em relação aos Aro, família que ocupa espaços em todas as esferas da política mineira — Marcelo Aro (PP), principal expoente, é secretário de Governo de Romeu Zema (Novo).

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Mesmo tendo governador, o Novo “infelizmente virou linha acessória da família Aro em Minas Gerais”, disse a vereadora. “Há um movimento para que eu saia, [encampado] pelos mesmos de sempre, que perseguem quem tem uma posição mais liberal e moderada”.

Vereadora Marcela Trópia (NOVO)

Vereadora Marcela Trópia (NOVO)

Segundo Tropia, colegas se reuniram para articular sua saída, mas não a convidaram para o diálogo. A parlamentar atribui a pressão aos episódios em que se opôs a acordos firmados com a família Aro, como ao se posicionar contra o impeachment de Gabriel Azevedo (hoje no MDB), então presidente da Câmara de BH, e abrir mão de um novo mandato à frente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Casa.

“Se os Aro quiserem me prejudicar [na próxima campanha], como já ocorreu anteriormente, não creio que o Novo tenha condição de me proteger”, afirmou Tropia, que disse ter recebido*convites de “quatro ou cinco” legendas no campo da direita*. “Mas não gostaria de sair”, concluiu.

Christopher Laguna, presidente estadual do Novo, negou qualquer articulação para a saída da vereadora, a quem chamou de “excelente mandatária”. “É mais um boato do que um fato. A Marcela corresponde aos nossos princípios e, por nós, será candidata a deputada federal pelo Novo”, disse à IstoÉ.

Governo de Minas provoca desavenças

O Novo deve deixar o comando de Minas Gerais e perder seu único governo estadual até abril, quando Zema renunciará para concorrer à Presidência da República. O vice-governador Mateus Simões herdará o cargo meses após deixar a sigla e se filiar ao PSD para disputar a reeleição.

Tropia afirmou à IstoÉ que, como se deu, a saída de Simões fez o Novo mineiro “perder credibilidade” para a direção nacional do partido, que esperava manter o governo mineiro e pleitear um novo mandato no segundo maior colégio eleitoral do país com Simões filiado. A avaliação é que, em sete anos à frente do Palácio da Liberdade, o Novo não atingiu o tamanho esperado em Minas — onde tem nove das 853 prefeituras, dois dos 77 deputados estaduais e não fez deputados federais. 

Procurada, a direção nacional do partido não respondeu. O espaço segue aberto à manifestação.

Sem o titular, o acordo firmado pelo partido de Zema — que se envolve pouco nas negociações — prevê a indicação do vice na chapa encabeçada pelo PSD. À IstoÉ, Laguna afirmou que os postulantes mais consolidados ao posto são da vereadora de Belo Horizonte Fernanda Altoé e do ex-deputado Tiago Mitraud. Nos bastidores, também circulam os nomes do prefeito Gleidson Azevedo, de Divinópolis, do advogado Marcelo Tostes e de Kathleen Garcia, presidente do partido na capital mineira.

”Não há racha. O Novo estará na posição de vice e nosso objetivo é consolidar um bloco, atraindo PL e Republicanos”, disse o dirigente. “Temos conversado muito para sair com uma direita unida e forte em prol da candidatura do Mateus Simões”.

No campo, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) lidera as pesquisas para o governo, mas enfrenta resistências no bolsonarismo após uma desavença com o ex-deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Integrantes do grupo, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), passaram a fazer acenos ao vice-governador.