O novo gramado do Allianz Parque pode diminuir um longo e desgastante problema na relação entre os gestores do estádio e o Palmeiras. Os shows e as operações no campo nos últimos cinco anos levaram o clube a recorrer ao aluguel de outros locais quase 30 vezes e a se tornar por isso credor da arena de um ressarcimento de pelo menos R$ 12 milhões. No entanto, esse valor é tema de discussão na câmara de arbitragem.

O objetivo principal da troca da grama natural pela sintética serve para ajudar o Allianz Parque a conciliar melhor o calendário de shows com a agenda de jogos. Apenas nos dois últimos anos o estádio sediou mais de 20 apresentações. Fora a coincidência de datas entre eventos de futebol e de música, havia também o problema do campo ficar danificado após a desmontagem do palco e prejudicar o rendimento do time. A inauguração do novo piso deve ser no próximo dia 16.

O Estado realizou um levantamento nos boletins financeiros dos 29 jogos disputados pelo Palmeiras fora do Allianz Parque desde a inauguração da arena, em novembro de 2014. Seja por shows ou reformas no gramado, o clube teve um custo de aluguel de R$ 2,2 milhões com outros estádios. A média de R$ 78,4 mil por partida. O montante foi descontado automaticamente do borderô dos jogos.

A reportagem apurou que pelo contrato firmado entre Palmeiras e Allianz Parque, a cada vez que o time não poder atuar na arena deve ser ressarcido por uma multa. O valor corresponde a 50% da renda bruta com a bilheteria da partida disputada em outro estádio. De acordo com os boletins financeiros, o montante acumulado desde a inauguração da arena somaria R$ 12,07 milhões.

O valor nunca foi pago porque é alvo de discussão na câmara de arbitragem. Palmeiras e Allianz Parque divergem sobre o tema pois se de um lado o clube exige o ressarcimento, do outro a gestora entende que deve ser reembolsada por despesas do estádio de água e luz nos dias das partidas. Por ainda existir esse impasse, os dois lados preferem não comentar o tema.

Quando joga fora da arena, o Palmeiras tem uma renda até 60% menor com a bilheteria. Nesses 29 jogos disputados como inquilino de outros estádios, em dois o time chegou a ter prejuízo (contra Rio Claro, em 2016, e diante do Goiás, em 2019).

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A câmara de arbitragem também já atuou em um outro tema sobre o estádio. As duas partes divergiam na interpretação do contrato sobre o direito de utilização de assentos do Allianz Parque. A pendência foi resolvida em outubro de 2016 com a decisão da arbitragem da Fundação Getúlio Vargas (FGV) favorável ao entendimento do clube.

Apesar do imbróglio sobre ressarcimento de jogos e o acerto sobre contas de água e luz, a relação das duas partes também possui momentos de parceria. Palmeiras e Allianz Parque somaram esforços para elaborar o plano de instalação da grama sintética e vão dividir as despesas. O serviço completo para colocar o novo campo no estádio e na Academia de Futebol custará R$ 10 milhões. A arena pagará R$ 7 milhões e o clube, R$ 3 milhões. Há também uma negociação avançada para reconstruir o memorial de troféus do clube.

AGENDA – Segundo o diretor de operações do Allianz Parque, Mike Willian, a principal dificuldade para conciliar a agenda do estádio é a dificuldade de se saber o cronograma de jogos. Partidas de competições eliminatórias podem ter a data alterada várias vezes, inclusive em cima da hora, e bater com a realização de uma apresentação.

“Muitas vezes um show é fechado com a arena com pelo menos um ano, nove meses de antecedência. É raro ter um show marcado com menos de seis meses”, explicou ao Estado. Outro desafio com a grama sintética é conseguir diminuir o tempo de montagem do palco, para conseguir liberar mais rapidamente o Allianz Parque para partidas de futebol.

“Uma turnê como um show do Paul McCartney ou do Coldplay você vai precisar pelo menos 48 horas para desmontagem (do palco). A gente trabalha para diminuir isso entre 24 e 36 horas, mas varia muito do tamanho da produção”, disse Willian.


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