ROMA, 16 SET (ANSA) – O novo governo da Itália mal tomou posse e já enfrenta a ameaça de uma cisão em um dos partidos da base aliada.   

Nos últimos dias, ganharam força os rumores que apontam que o ex-primeiro-ministro e senador Matteo Renzi deixará o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, para fundar uma nova legenda.   

Os boatos sobre sua saída do PD circulam na política italiana ao menos desde março de 2018, quando ele deixou o comando do partido, mas agora o rompimento é tratado por muitos como iminente.   

“Não quero saber de conversa fiada. Sobre política nacional, falaremos na Leopolda, e eu serei claro como nunca”, prometeu Renzi no último fim de semana, em entrevista ao jornal Corriere Fiorentino, fazendo referência ao congresso que ele promove anualmente em Florença, a Leopolda, e que em 2019 acontece de 18 a 20 de outubro.   

Seu objetivo seria fundar uma legenda capaz de atrair votos de eleitores moderados de centro e até do Força Itália (FI), partido conservador presidido pelo ex-premier Silvio Berlusconi.   

Ao mesmo tempo, Renzi continuaria na aliança com o populista Movimento 5 Estrelas (M5S) para tentar influenciar as decisões do primeiro-ministro Giuseppe Conte, que tomou posse para seu segundo mandato em 5 de setembro.   

Apesar de ser um dos maiores críticos do M5S, Renzi levantou suas barreiras a uma coalizão entre o PD e o partido populista para evitar o risco de uma ascensão do ex-ministro do Interior Matteo Salvini, da ultranacionalista Liga, ao poder.   

No entanto, ao longo dos últimos dias, diversos aliados do ex-premier expressaram insatisfação com a ausência de toscanos no alto escalão do novo governo – Renzi é natural de Florença e foi prefeito da capital da Toscana entre 2009 e 2014.   

“Espero que não tenha sido simplesmente um modo de atingir Renzi e nosso grupo, porque acho que os toscanos não merecem isso”, afirmou na última sexta (13) a deputada Maria Elena Boschi, ex-ministra de Renzi. Já o deputado Ettore Rosato, também “renziano”, foi mais longe e disse que uma eventual cisão seria uma “separação consensual”.   

Segundo informações de bastidores, o ex-primeiro-ministro já teria reunido os deputados e senadores necessários para formar um grupo parlamentar. Renzi sempre foi visto com desconfiança pelas alas mais à esquerda do PD, especialmente por aprovar uma lei que flexibilizou as leis trabalhistas e por seu estilo agressivo de comandar o partido.   

Em função disso, dissidentes deixaram a legenda antes das eleições de 2018 e formaram uma nova aliança de esquerda, chamada Livres e Iguais (LeU), que tem pouca representação no Parlamento, mas também faz parte do governo com o M5S.   

Reações – A expectativa de uma secessão no PD gerou reações e apelos por união por parte de expoentes do partido.   

“Não faz sentido falar de separação consensual. Renzi foi um daqueles que fizeram um trabalho muito importante para chegar a essa solução [a aliança com o M5S], e agora vai romper porque não tem um ministro de Pontassieve [cidade onde Renzi reside]? Francamente, parece algo difícil de explicar aos italianos”, disse o ex-premier Enrico Letta, derrubado por Renzi em 2014.   

Já o líder do PD e governador do Lazio, Nicola Zingaretti, afirmou que um partido unido é “útil à democracia e à estabilidade do governo”. “Dividir-nos neste momento é um erro gravíssimo que a Itália não entenderia”, acrescentou.   

O Partido Democrático foi criado no segundo semestre de 2007, com o objetivo de unir sob o mesmo guarda-chuva diversas alas da centro-esquerda italiana, desde ex-comunistas até sociais-democratas e egressos da antiga Democracia Cristã. Sua plataforma é progressista, europeísta e contrária à antipolítica.   

O PD é também o mais heterogêneo dos partidos do país, com alas ligadas a sindicatos, ao mundo empresarial, à Igreja Católica, entre outras. Por conta disso, tem uma longa história de brigas internas e ameaças de cisão. (ANSA)