Um novo cessar-fogo de 72 horas, com possibilidade de renovação, entra em vigor nesta quarta-feira à meia-noite no Iêmen, onde os beligerantes, pressionados, parecem mais dispostos a chegar a um acordo para acabar com a guerra que já dura 18 meses.

No entanto, os combates e bombardeios aéreos prosseguiram nesta quarta-feira em diferentes fronts e deixaram ao menos cinco mortos, segundo fontes militares.

Anunciada na segunda-feira pela ONU, esta trégua começa em um momento de estagnação do conflito, que deixou 6.900 mortos, 35.000 feridos, três milhões de deslocados e devastou a economia do país, considerado o mais pobre da península arábica, inclusive antes do início da guerra.

Desde março de 2015, o governo iemenita, reconhecido pela comunidade internacional e apoiado pela coalizão militar árabe sob comando saudita, enfrenta rebeldes xiitas huthis, acusados de vínculos com o Irã, que controlam a capital Sanaa e amplas regiões do norte, oeste e centro do país.

A sexta tentativa de cessar-fogo, mediada pela ONU, acontece após um grande erro dos aviões da coalizão liderada por Riad, que matou 140 pessoas e deixou 525 feridos em 8 de outubro em Sanaa.

Além disso, nas últimas semanas foram registrados disparos de mísseis contra navios da Marinha dos Estados Unidos no Mar Vermelho e uma resposta americana contra baterias de radares situadas nas zonas controladas pelos rebeldes.

Diante de tal cenário, a comunidade internacional, com Washington à frente, aumentou a pressão sobre os beligerantes: o governo do presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, apoiado pela coalizão de países árabe-sunitas, e os rebeldes huthis pró-Irã, aliados das forças do ex-chefe de Estado Ali Abdullah Saleh.

O secretário de Estado americano, John Kerry, pediu o respeito ao cessar-fogo, que deve começar às 23H59 no Iêmen (18H59 de Brasília), assim como sua renovação incondicional.

“Pedimos a todas as partes que tomem as medidas necessárias para a implementação desta trégua, pedimos que façam com que ela dure e encorajamos fortemente sua renovação incondicional”, declarou.

O governo de Hadi, no entanto, anunciou suas condições: a implementação de um comitê de observação do cessar-fogo, o fim do cerco a Taiz, grande cidade do sudoeste sitiada por rebeldes, e a distribuição sem restrições de ajuda humanitária.

– Cessar-fogo “duradouro e incondicional” –

Os rebeldes afirmam estar preparados para um “cessar-fogo duradouro, global e sem condições, que garantirá o fim da agressão e a suspensão do bloqueio imposto pela coalizão”.

As possibilidades de uma trégua parecem reais, destaca o analista Mustafa Alani, que cita um “ambiente completamente diferente” ao do último cessar-fogo que fracassou em abril.

“As grandes potências estão envolvidas desta vez, Estados Unidos e Grã-Bretanha, que exercem pressão sobre as partes”, disse.

“Ao mesmo tempo, (os beligerantes) estão esgotados pelo custo humano e financeiro do conflito. As partes pensam que não podem vencer militarmente”, completa o analista para questões de segurança no Centro de Pesquisas do Golfo, que tem sede em Genebra.

Kerry ressaltou que o cessar-fogo é essencial para retomada dos esforços pela paz.

“Continuaremos trabalhando com todas as partes para chegar a uma solução negociada”, declarou o responsável americano.

Para Alani, existe uma possibilidade de compromisso com base na resolução 2216 (abril de 2015) do Conselho de Segurança da ONU. O texto, aceito pelo presidente Hadi, obriga os rebeldes a abandonar as zonas conquistadas, a devolver as armas e a começar as discussões políticas. Os huthis, no entanto, insistem em um diálogo político sem condições.