Um dos principais personagens da história do Brasil na Copa Davis, Jaime Oncins agora vai atuar fora de quadra na tradicional competição por equipes. Ele foi anunciado como novo capitão do Brasil há duas semanas, no lugar de João Zwetsch. E já começou a trabalhar. Em Miami, iniciou as conversas com os possíveis convocados para sua futura estreia no cargo, em setembro, contra Barbados, na busca pela vaga na fase qualificatória.

Morando nos EUA desde 2014, ele vai conciliar a função com o trabalho que realiza com crianças e adolescentes na escola Montverde Academy, em Orlando. Lá é técnico de tênis com uma filosofia de trabalho em equipe. E é exatamente isso que pretende resgatar no time brasileiro após seguidas decepções nas últimas temporadas.

Para tanto, ele conta com o apoio de ex-colegas de equipe na Davis como Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni. Oncins se tornou quase unanimidade para ocupar o cargo. Não por acaso. Foram 11 anos na Davis. Esteve em quadra nas duas melhores campanhas do Brasil, nas semifinais de 1992 e 2000. Fora de quadra, foi treinador dos brasileiros André Sá e Flávio Saretta e do português Gastão Elias.

Em entrevista ao Estado, diz estar motivado para ocupar o cargo para o qual foi escolhido há 15 anos, mas que não assumiu por causa do famoso boicote dos tenistas à gestão da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) então presidida por Nelson Nastás.

Como novo capitão do Brasil na Davis, ele garante que terá autonomia para escolher o piso e os locais dos jogos, o que foi alvo de polêmica no último confronto, no qual a CBT escolheu o saibro indoor de Uberlândia, o que favoreceu o estilo de jogo da Bélgica, que acabou vencendo.

Com dificuldades financeiras, sem o patrocínio dos Correios, a CBT escolheu Uberlândia, no último confronto, por causa do apoio da prefeitura local. Este contexto de poucos recursos te preocupa?

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Agora não, porque em todas as conversas que tive com o presidente Rafael Westrupp foram positivas. Nesta questão da escolha de piso, ele deixou bem claro que fica totalmente ao meu critério. Vou analisar o adversário e ver qual é o melhor piso, as melhores condições para se jogar o confronto. Ele me deu carta branca e falou que vai fazer o máximo para poder sempre estar correspondendo as nossas expectativas em termos de condições de jogo.

O Brasil vem de derrotas inesperadas e atuações irregulares. Como avalia o momento atual do time na Davis?

Não posso falar dos resultados que aconteceram porque não estava lá dentro para saber como era o dia a dia. E também por uma questão de respeito ao João [Zwetsch]. Ele teve bons resultados, alguns placares inesperados. Não seria muito legal comentar agora. O que posso falar é o que eu pretendo fazer daqui para a frente. Acho que temos jogadores experientes e novos, com grande potencial, de estar daqui a alguns anos com uma equipe forte. Temos que aproveitar o material que temos. Esse vai ser o meu foco: entender a ferramenta que terei em mãos e tentar puxar o máximo possível de cada um para poder formar um time.

Já conhece a equipe de Barbados, próximo rival do Brasil?

Só conheço o Darian King (atual 191º do mundo). Acho que os demais tenistas da equipe não têm pontos no ranking. Sei que é um jogador muito bom, principalmente na quadra dura. Perdeu um jogo duríssimo aqui no quali do Masters 1000 de Miami. E sei que 90% do calendário dele é voltado para a quadra dura. Então, com certeza não vamos jogar na quadra dura.

Você vai continuar morando nos EUA?

Vou continuar aqui no comando da equipe da Montverde Academy aqui em Orlando. Tenho alguns compromissos que estou assumindo com a CBT no sentido de estar presente em alguns torneios para poder acompanhar mais de perto os possíveis jogadores a serem convocados. Vou ter uma linha direta com todos os treinadores dos jogadores para buscar informações. Hoje em dia tem uma facilidade muito grande de acompanhá-los no circuito. Eu já fazia isso antes, assistia a vários jogos através pela internet, mesmo jogos de challenger. Acho que não vai ter nenhuma dificuldade neste sentido.

Qual vai ser a sua filosofia de trabalho no comando do time na Davis?

Pretendo passar para a equipe o que faço na Montverde Academy. Lá temos um trabalho muito legal de conscientização da garotada em entender que é importante trabalhar em equipe, apesar do tênis ser um esporte individual. Quanto mais um ajudar o outro, um puxar o outro, vai ser melhor para todo mundo. Eles vão estar cada vez mais se aprimorando e evoluindo. Assim, ganhamos um título nacional no masculino neste mês. Na Davis, quero também ter este contato com a garotada. Sei que está surgindo uma safra no Brasil. Quero que tenham a consciência e saibam a importância que é um dia estar numa Copa Davis.

Por que o Brasil não tem mais tenistas no Top 100?

São momentos que o tênis brasileiro está passando, assim como aconteceu com a Argentina, na minha época. Depois lá veio uma leva enorme e eles souberam aproveitar. Não temos 20, 30 jogadores em alto nível. Nosso número é menor. Sei o quanto está competitivo o circuito, sei como é difícil entrar entre os 100 melhores. E o quão difícil é se manter neste grupo. É uma batalha que cada jogador enfrenta junto com o seu técnico, de montar um calendário, em que consiga buscar o seu melhor potencial. A nossa realidade é que tivemos poucos jogadores entre o 100 melhores. Temos que trabalhar em cima disso.


Você vai apostar na experiência ou pretende acelerar o processo de renovação da equipe?

Ainda é cedo para pensar na convocação. Mas não tem questão de idade, se é jovem ou se é experiente. Quero chamar quem estiver melhor. E também temos que pensar no momento de transição que estamos passando. Todo o processo tem que ser feito de forma gradativa. Tem que analisar o time que vamos enfrentar, as peças que precisamos. Deixei bem claro a todos que as portas estão abertas para todo mundo. E que eles é que vão se convocar, mostrando o que podem fazer dentro de uma quadra.

Como se resgata a confiança de um tenista como Thomaz Bellucci, que já foi Top 30?

Eu teria que trabalhar com ele no dia a dia para descobrir. Mas já tive jogadores em mãos sem confiança, passando por momentos difíceis. Cada um reage de uma maneira. Você tem que entender a personalidade do atleta, onde vai conseguir fazer ele jogar o seu melhor tênis. Tem uns que gostam de ser mais puxados, outros que você tem que ir mais na conversa, na motivação. O Thomaz é um jogador, sem dúvida nenhuma, de potencial muito grande. Já mostrou o nível que tem, dos adversários que pode ganhar. Ninguém desaprende a jogar.

Quando a Davis anunciou suas mudanças estruturais, você foi um dos que mais fez críticas. Já fez as pazes com a competição?

Acho que tudo é uma questão de adaptação. É o primeiro ano, tem uma expectativa geral no circuito. Todo mundo quer saber como vai ser esta fase final, com tudo no mesmo lugar. Se pensarmos friamente, a principal mudança afeta os 18 países que estão na fase final. Os demais vão continuar jogando como antes. A maior diferença vai ser o formato do jogo, de cinco para melhor de três sets. A margem para erro é bem menor agora.


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