O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva se encontra hoje em Brasília com a senadora Simone Tebet. Mesmo se não for feito um anúncio oficial após a reunião, é praticamente certo que o martelo deverá ser batido hoje, com a senadora aceitando o cargo no Ministério do Planejamento. Não será algo que pode ser chamado de final feliz, porque o desenrolar dos acontecimentos até essa acomodação final já pode ser incluído nas trapalhadas da terceira gestão de Lula. Tebet, que levou para Lula uma boa parte dos milhões de votos que recebeu no primeiro turno da eleição, merecia mais consideração política do presidente eleito. Nos últimos 15 dias, foram expostas a intenção inicial de Tebet, querendo o ministério que controla o Bolsa Família, e isso os petistas não admitiram de jeito nenhum, a consideração do nome dela para o Ministério do Meio Ambiente, que taparia um buraco e abriria outro com a questão sobre o que fazer com Marina Silva, e, mais recentemente, um número de medidas e combinações para acomodá-la em um ministério da turma de Fernando Haddad, o novo titular da Fazenda.

Não há dúvida de que Tabet foi se sentindo cada vez mais diminuída nas considerações do presidente eleito. Pior: ela também foi abandonada pelo próprio partido, o MDB. A legenda fez deixar claro a Lula que ainda haveria indicação para os dois ministérios que foram parar nas mãos do MDB após a discussão sobre como contemplar os partidos que ajudaram o PT na eleição. O recado foi de que Tebet era uma questão de Lula, uma indicação para ele resolver, e que ao partido caberia indicar dois outros nomes para os ministérios prometidos. A diminuição da importância de Tebet no cenário arrastou também Marina para uma superexposição desnecessária, numa confusão que, no final das contas, não deixa de ser um processo de fritura das dessas mulheres relevantes na política nacional. Marina, que logo após a definição da eleição de Lula foi com ele para a COP27 com todas as honras que seriam normalmente direcionadas ao ministro do Meio Ambiente, fez ali praticamente uma cerimônia informal da recuperação do protagonismo brasileiro na questão ambiental. Reconhecida internacionalmente, até ali não havia a menor condição de se imaginar o Ministério do Meio Ambiente com outra pessoa no lugar dela. No desespero para acomodar Tebet, o PT começou até a articular como resolver dali em diante a questão Marina, se esta aceitasse abrir mão da pasta, o que não aconteceu, apesar de pressões.

Como tudo o que é ruim ainda pode piorar, a solução encontrada para o futuro de Simone Tebet também expõe questões que certamente o PT não gostaria de levar a público. Deixada para a última leva de indicações de ministérios, ficou difícil uma pasta com uma relevância mínima para recompensar a ajuda de Tebet a Lula no segundo turno. Assim, as peças estão sendo movimentadas para que o Ministério do Planejamento ganhe uma turbinada, com alterações que possam proporcionar uma missão mais encorpada para quem assumir a pasta. Passam por essas medidas que o Ministério do Planejamento cuide dos bancos públicos e de outras questões importantes. Tudo isso, claro, passando sem grandes confrontos o posicionamento mais liberal de Tebet diante do pensamento político e econômico de Fernando Haddad. Ao desmembrar o Ministério da Economia em quatro pastas, Fazenda, Planejamento, Gestão e Indústria e Comércio, o esperado era uma atuação bem afinada entre seus quatro ministros. Iniciar esse processo já pensando em contornar evidentes divergências ideológicas entre Haddad e Tebet já é uma chance que se abre para maiores problemas. No mundo ideal dos petistas, o melhor seria uma ministério que pudesse “esconder” Simone Tebet.