Graças à onda de renovação na eleição de 2018, políticos “novatos” receberam 30% dos votos nominais dos eleitos para a Câmara dos Deputados – quase o dobro da parcela obtida em 2014. Apesar desse crescimento, a tradição na política mostrou que ainda tem força: sete em cada dez votos dos deputados eleitos foram dados para “veteranos” que já haviam exercido ao menos um mandato eletivo – como prefeitos ou nas esferas estaduais ou federais do Executivo ou do Legislativo.

Um avanço ainda maior dos novatos pode ter sido brecado por ação das grandes máquinas partidárias. PT, PSDB e MDB, as três legendas que dominaram a política brasileira nos últimos 30 anos, tiveram renovação baixa: em média, 90% dos votos dos eleitos dessas bancadas foram para concorrentes que disputavam a reeleição ou já haviam exercido mandatos eletivos.

Eles também tiveram mais dinheiro para fazer campanha: nos três partidos, os veteranos abocanharam 92% dos recursos entre os eleitos.

A diferença fica clara quando se compara o PT ao PSL, por exemplo. As legendas, que formaram as maiores bancadas para a nova legislatura, têm lógicas inversas: dentre os petistas, 50 dos 56 eleitos já ocuparam algum cargo eletivo; no partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro, 47 dos 52 são novatos.

A proporção de votos nominais espelha a representação que os novatos terão na Câmara a partir do ano que vem. Dentre os 513 parlamentares eleitos, 161 deles, ou 31%, serão pessoas cuja estreia na política se dará na Casa. Considerando todas as bancadas, os novatos gastaram apenas 18% dos recursos. Ou seja, tiveram aproveitamento melhor, já que obtiveram 30% dos votos nominais.

As campanhas deles custaram, em média, R$ 6 por voto – metade do custo para os veteranos, que desembolsaram cerca de R$ 12 por cada eleitor, numa divisão das despesas de campanha pelo número de votos. “Isso pode estar ligado a um perfil diferente de político, que usou muito as redes sociais, e pelo efeito de manada dos grandes puxadores de voto”, disse a cientista política Lara Mesquita, da FGV.

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Alguns casos são emblemáticos e ilustram bem o cenário que as urnas pintaram em outubro. O voto mais “barato” para deputado em todo o País foi o de Alexandre Frota (PSL-SP), com média de nove centavos – conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo. Ele não recebeu verbas do partido.

Outro caso de destaque é o de Joice Hasselmann, também do PSL paulista, que desembolsou cerca de 22 centavos por eleitor. Ambos são ativos nas redes sociais e ajudaram, mesmo com pouco dinheiro declarado à Justiça Eleitoral, a difundir o bolsonarismo, que teve na internet sua maior arma de campanha.

Apesar de ser a legenda que mais chama atenção por causa da avalanche de deputados novatos – que propiciaram o aumento superlativo da sigla -, o PSL não foi quem teve o maior porcentual de votos nominais em estreantes para a nova Câmara. O nanico PRP, que elegeu apenas quatro parlamentares, sendo três iniciantes, registrou 72% para esses candidatos.

Antes do PSL, ainda aparecem o PHS, com 69%, e o PTB, com 65%. O porcentual de votos em inexperientes do partido de Bolsonaro foi de 64%.

Com dados que mostram o resultado da estratégia aplicada pelos partidos tradicionais neste ano, PT e PSDB têm o menor porcentual de novatos na lista de eleitos: 9% e 11%, respectivamente.

O enxugamento dos recursos nos últimos quatro anos, com a proibição da doação empresarial, fez com que as legendas grandes focassem em concentrar o dinheiro do novo fundo eleitoral em candidatos viáveis, sem margem para grandes aventuras.

Funcionou no caso do PT, que, apesar de perder parlamentares por causa do aumento da fragmentação da Casa, saiu das urnas com a futura maior bancada. Os tucanos, por outro lado, sofreram um baque: passaram da terceira legenda com mais representantes eleitos em 2014 para a nona em 2018. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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