A trégua entre Israel e Hamas foi prorrogada nesta terça-feira (28) para permitir a libertação de mais reféns israelenses e detentos palestinos, assim como a entrada de ajuda adicional na Faixa de Gaza, onde a situação humanitária é considerada “catastrófica”.

Nesta terça-feira, durante o quinto dia consecutivo sem combates, o Hamas libertará 10 reféns israelenses em troca de 30 prisioneiros palestinos, informou à AFP uma fonte próxima ao movimento islamista palestino, no poder em Gaza.

No entanto, um jornalista da AFP na Cidade de Gaza viu o Exército israelense efetuar três disparos contra dezenas de civis que tentavam entrar no bairro de Sheikh Radwa. O repórter constatou um ferido.

O Exército afirmou que “vários suspeitos se aproximaram das tropas israelenses” e que um tanque deu “tiros de advertência”. Os movimentos palestinos denunciaram “violações da trégua” por Israel.

Por sua vez, os militares israelenses denunciaram a detonação de três artefatos explosivos perto de suas forças no norte da Faixa de Gaza, “violando o marco da pausa operacional”.

Em vigor desde a madrugada de sexta-feira (24), o acordo negociado pelo Catar, com apoio do Egito e dos Estados Unidos, permitiu até o momento a libertação de 50 reféns que estavam em poder do Hamas na Faixa de Gaza e de 150 palestinos presos em Israel.

Além disso, outros 19 reféns, em sua maioria trabalhadores estrangeiros em Israel, foram libertados pelo Hamas à margem do acordo que, a princípio, teria duração de quatro dias, até a madrugada desta terça-feira.

Poucas horas antes do fim do prazo, Estados Unidos e Catar anunciaram a extensão da trégua por mais dois dias, até as 07h de quinta-feira em Gaza (02h de Brasília). No prazo adicional devem ser libertados cerca de 20 reféns e 60 presos palestinos.

– “Alegria indescritível” –

Durante a noite de segunda-feira, 11 reféns israelenses foram libertados na Faixa de Gaza, incluindo seis de famílias argentinas: uma mãe e as duas filhas adolescentes e a mulher de um argentino que permanece sequestrado e suas duas filhas gêmeas de três anos.

Pouco depois, Israel libertou 33 palestinos de suas prisões, incluindo Mohamed Abu al Humus, que abraçou a mãe ao retornar para casa em Jerusalém Oriental.

“Não posso descrever o que sinto. É uma alegria indescritível”, declarou aos correspondentes da AFP.

Em Beitunia, na Cisjordânia ocupada, a recepção aos presos libertados terminou em confrontos com as forças de segurança de Israel. Um jovem palestino morreu ao ser atingido “por disparos”, informou o Ministério da Saúde palestino.

A mesma fonte reportou a morte de outros dois palestinos por soldados israelenses na Cisjordânia.

Os mediadores trabalham para estender a trégua para além das 48 horas adicionais. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajará no fim de semana para Israel e a Cisjordânia ocupada para reuniões com Netanyahu e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

Os chefes dos serviços de Inteligência americano e israelense estão em Doha, capital do Catar, para discutir a “fase seguinte” do acordo, segundo uma fonte a par dessas negociações.

Apesar da pressão da sociedade civil para conseguir o retorno de mais reféns, tanto o Exército como o governo de Israel reiteraram nos últimos dias que pretendem retomar os combates para “eliminar” o Hamas.

“Vamos libertar todos os reféns”, declarou Netanyahu nesta terça. “Destruiremos essa organização terrorista (Hamas) e nos asseguraremos de que Gaza deixe de ser uma ameaça para o Estado de Israel”, acrescentou.

O governo de Netanyahu solicitou ao Parlamento um orçamento “de guerra” de 30,3 bilhões de shekels (8 bilhões de dólares, 39 bilhões de reais).

– “Bom começo”, mas insuficiente –

Israel iniciou a ofensiva contra a Faixa de Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro, quando 1.200 pessoas foram assassinadas por combatentes islamistas e outras 240 foram sequestradas, segundo as autoridades israelenses. Entre os mortos estão mais de 300 militares ou integrantes das forças de segurança.

Em Gaza, alvo de bombardeios incessantes e de uma ofensiva terrestre desde 27 de outubro, a operação israelense deixou 14.854 mortos, incluindo 6.150 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.

A Faixa de Gaza também sofre um cerco total por parte de Israel que causou uma dramática falta de itens essenciais.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) saudou a chegada de várias centenas de caminhões carregados de ajuda desde 24 de novembro, graças à trégua, mas alertou que está longe de ser suficiente.

“É um bom começo. Certamente, o tipo certo de ajuda, combustível, medicamentos, alimentos”, declarou nesta terça-feira seu porta-voz, James Elder, em um vídeo feito em Gaza, acrescentando que “a ajuda deve ser multiplicada”.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) observou um “enorme aumento” de algumas doenças contagiosas.

Mais da metade das residências do território foi danificada ou destruída pela guerra, que provocou o deslocamento de 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes, segundo a ONU.

“Tento encontrar lembranças da minha casa”, disse um palestino de Al Zahra, mostrando as montanhas de escombros onde antes ficava sua casa, destruída pelos bombardeios israelenses.

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