O futuro judicial de Carlos Ghosn, presidente da Renault e responsável pela aliança entre o grupo francês e a japonesa Nissan, tornou-se mais obscuro nesta sexta-feira (11) com a apresentação de duas novas acusações pela Justiça japonesa, o que prolonga sua detenção.

Seus advogados solicitaram sua soltura sob fiança, mas essa demanda tem poucas chances de ser aceita. Se rejeitada, Ghosn permanecerá na prisão pelo menos até 10 de março.

A Promotoria acusou Ghosn, preso em Tóquio desde novembro, de quebra de confiança e por subestimar sua renda nos relatórios financeiros da Nissan entre 2015 e 2018.

De acordo com a Promotoria, Ghosn, de 64 anos, pode teoricamente ser sentenciado a 15 anos de prisão.

O braço direito de Ghosn, Greg Kelly, solto sob fiança em 25 de dezembro, também foi acusado de reduzir seus ganhos em relatórios financeiros, assim como fez a própria montadora japonesa como instituição.

Ghosn, Kelly e o grupo Nissan já haviam sido indiciados em dezembro por terem declarado rendimentos mais baixos nos cinco anos anteriores.

Carlos Ghosn compareceu na terça-feira pela primeira vez diante de um juiz, mais magro e algemado, e declarou ter sido “falsamente acusado e injustamente detido”.

O principal advogado de Ghosn anunciou nesta sexta que vai pedir a libertação do seu cliente sob fiança, pouco depois da nova acusação.

“Vou entrar com um pedido de liberdade sob fiança”, disse o advogado Motonari Otsuru em um breve comunicado.

– Febre alta –

De acordo com a Promotoria, o abuso de confiança é caracterizado por sua tentativa de fazer a Nissan pagar por “perdas” que foram produto de “investimentos pessoais” no momento da crise financeira em outubro de 2008.

Os valores envolvidos chegariam a 1,8 bilhão de ienes (17,2 milhões de dólares).

Para resolver esse problema financeiro, Ghosn teria conseguido que um milionário saudita, Khaled Juffali, fosse fiador e teria dado dinheiro procedente da “reserva” de seu cargo de CEO da Nissan.

De acordo com Ghosn, essa soma foi entregue por serviços realmente feitos em favor da Nissan.

Desde sua prisão em 19 de novembro em Tóquio, o empresário está em um centro de detenção no norte da capital. Na quarta-feira à noite, ele teve febre alta, o que obrigou os investigadores a suspenderem seus interrogatórios.

Ghosn já havia se recuperado nesta sexta-feira, segundo seu advogado Motonari Otsuru.

Sua mulher, Carole Ghosn, que até agora permaneceu em silêncio, expressou preocupação com o estado de saúde do marido, lamentando “duras condições de detenção e tratamento injusto”.

“Estamos angustiados”, disse Carole, em um comunicado.

– Aliança –

Apesar destes contratempos legais, a Renault optou por manter no cargo Carlos Ghosn – de tripla nacionalidade francesa, libanesa e brasileira -, ao contrário de sua parceira japonesa Nissan e da Mitsubishi Motors, que se apressaram para retirá-lo da presidência do Conselho Administrativo.

Desde sua detenção, no entanto, a Renault estabeleceu uma gestão executiva interina, embora Ghosn permaneça como diretor executivo do grupo.

Horas antes de a Justiça japonesa voltar a acusar Ghosn e a Nissan, a fabricante francesa Renault declarou que, após a realização de uma investigação interna sobre a remuneração de seu presidente, concluiu que não houve fraude nos anos de 2017 e 2018.

Algumas revelações da imprensa apontam, porém, para a situação de Ghosn como residente fiscal na Holanda, onde está sediada a holding que agrupa a aliança, ou a doações para empresários do Líbano, de Omã e de outros países, usando para isso o dinheiro da Nissan.