Já pensou em tirar “férias de macho”? Você não está sozinha! A nova moda entre algumas mulheres heterossexuais é tirar um sabático de tudo que envolve os homens: seja sexo casual, namoro ou até mesmo um flerte.

“Você não está solteira se tem alguém ocupando espaço no seu cérebro, ok?”, diz a comediante americana Hope Woodard. Foi ela que popularizou no TikTok o termo que hoje dá nome ao seu show de standup e ao movimento que propõe uma espécie de rebranding do celibato: “boysober“. “O que significa zero encontros, zero romance, zero nada por um ano inteiro”, completa.

Foi exatamente o que a engenheira Shai Sato decidiu fazer em janeiro de 2023, quase um ano antes do “boysober” virar modinha — e depois de péssimas experiências com homens em seis anos de solteirice.

“Falei assim: ‘vou me curtir, vou curtir o mundo, e não vou correr atrás de ninguém nem vou dar abertura pra ninguém. Vou focar em mim, vou focar em fazer outras coisas, vou viajar’. O ano passado eu viajei pra caramba, então foi ótimo”, afirma Shai Sato.

Ao fim dos 12 meses, Shai se aproximou daquele que viria a ser seu atual namorado — e acredita que essa pausa ajudou a construir o relacionamento mais tranquilo que já teve na vida. “Eu consegui ponderar se eu tô interessada em ter um relacionamento ou se eu tô interessada nele mesmo. Então eu consegui ver isso com clareza”, completa.

Para a psicanalista Ana Suy, trata-se apenas de um novo nome para uma etapa necessária — e que, em tempos de amor por aplicativo, tem sido cada vez mais negligenciada: a elaboração do luto.

“Antes das redes sociais, antes dos aplicativos de encontros, pra gente ter tanto desapontamento, a gente levava bem mais tempo. Então tinha tempo pra dar uma descansada, né, pra elaborar o luto. E o que a gente tem hoje? Uma coisa emendada na outra, não tem intervalo pra nada”, conta a psicanalista Ana Suy.

E não basta elaborar o luto apenas do que vivemos “na vida real”. Para Ana Suy, também é preciso processar o fim de cada relacionamento imaginário que vivemos com os contatinhos — mesmo que eles jamais tenham chegado perto de se concretizar.

“A gente precisa elaborar o luto daquilo que não foi. Se a gente não faz isso, a gente vai emendando uma experiência na outra. Isso é extremamente cansativo, paralisante, angustiante, né? Porque faz mal pra gente a gente não se respeitar, não respeitar o nosso tempo, não respeitar o nosso sofrimento”, explica a psicanalista Ana Suy.

É por isso que a gente parece se cansar mais — e mais rápido — dos homens do que as nossas mães e avós, pra quem o cardápio muitas vezes se resumia aos moços que frequentavam a mesma praça. E o fato do termo escolhido para dar nome à elaboração do luto hoje em dia ser “sóbria de boy” diz muito sobre as nossas gerações.

“Dentro da psicanálise, a gente vai pensar a relação com os objetos de drogas através da toxicomania, né? E o que é a toxicomania? É justamente essa ausência de intervalo. Você não sabe mais se você consome o objeto ou se você é consumido por ele. Então, esse tempo de separação em relação ao objeto é o tempo de poder retomar essa decisão, né. Essa coisa da sobriedade tem a ver com você poder se sentir dono das suas escolhas, poder se sentir dona do seu próprio corpo, da sua vida”, argumenta a psicanalista Ana Suy.