Após um vácuo de poder que durou quatro dias, Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte do Nepal, prestou juramento como nova primeira-ministra interina do “Teto do Mundo”. Agora ela enfrentará a tarefa de manter unido um país fraturado e prepará-lo para as próximas eleições, previstas para 5 de março de 2026.
Karki, de 73 anos, não se furtou às responsabilidades na cerimônia perante o presidente Ram Chandra Poudel e destacou os desafios que tem pela frente, prometendo que o prazo para a realização do pleito será respeitado. Conhecida por sua tenacidade e amada pelos jovens ativistas que “elegeram” seu nome por meio da plataforma Discord, ela é a primeira mulher a chefiar o governo do Nepal, país de 30 milhões de habitantes incrustado nas montanhas do Himalaia, a cordilheira mais alta do planeta.
Karki nasceu em uma família ligada ao grande partido social-democrata da nação, o Congresso Nepalês, e posteriormente casou-se com um expoente da legenda, Durga Subedi, figura controversa que participou do sequestro de um avião há 52 anos, quando o Nepal ainda era uma monarquia absolutista.
“Temos de trabalhar seguindo o pensamento da geração Z”, sublinhou Karki durante a posse, explicando que os jovens exigem três coisas: “o fim da corrupção, um bom governo e a igualdade econômica”.
A troca de poder ocorreu após uma onda de revolta deflagrada pela decisão já revogada do agora ex-premiê KP Sharma Oli de bloquear o acesso a diversas redes sociais no país, incluindo Facebook, YouTube e X, mas as manifestações logo se concentraram na corrupção e na pobreza generalizadas, contrapostas às vidas de ostentação das famílias de políticos.
Os protestos tiveram dezenas de mortos pela polícia e invasões dos manifestantes às casas de figuras poderosas do Nepal. A esposa de um ex-premiê foi queimada viva dentro de sua residência.
Segundo o Banco Mundial, um quinto da população entre 15 e 24 anos do país está desempregada, e o PIB per capita é de menos de US$ 1,5 mil (R$ 8 mil) por ano. Entre as tarefas mais urgentes de Karki estão restabelecer a ordem pública, reconstruir a sede do parlamento e outros edifícios atacados durante as manifestações e acalmar a “geração Z”. Ao mesmo tempo, parte da população teme pela solidez da democracia e exige que os responsáveis pelos atos de violência sejam responsabilizados na Justiça.