Um novo capítulo na história do Oriente Médio se abrirá na terça-feira (15), quando Israel assinar acordos para normalizar suas relações com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, um ato que acaba com o consenso árabe sobre as relações com o Estado hebreu.

O presidente americano Donald Trump e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu vão assinar com os representantes das Relações Exteriores dos Emirados e do Bahrein acordos que estabelecem oficialmente relações diplomáticas entre o Estado hebreu e os dois países do Golfo.

Embora não sejam aliados naturais, Emirados e Bahrein compartilham com Israel uma animosidade comum contra o Irã, o gigante xiita da região localizado do outro lado do Golfo.

Há anos, vários países árabes petroleiros cultivam discretamente laços com Israel, mas a normalização permite que essas relações se desenvolvam publicamente e oferece oportunidades para esses países tentarem reparar os danos causados pela crise do coronavírus.

Para Trump é uma importante vitória antes das eleições presidenciais de novembro, e até mesmo a chance de aspirar ao Prêmio Nobel da Paz, segundo a ideia de um parlamentar de direita norueguês, que o propôs a esse prêmio para 2021.

Esses acordos também são um triunfo para Netanyahu e aproximam Israel de seu objetivo de ser aceito na região.

“Outro novo avanço histórico hoje!”, tuitou o presidente americano na sexta-feira, ao anunciar o acordo entre Israel e Bahrein, que ocorre um mês após o anúncio do firmado entre o Estado hebreu e os Emirados.

– Descontentamento palestino –

Por sua vez, os palestinos convocaram uma manifestação na terça-feira para denunciar esses acordos “vergonhosos”.

Desde 2002 prevalecia o consenso entre os países árabes de que a resolução do conflito israelense-palestino era condição ‘sine qua non’ para normalizar as relações com Israel, que desde 1967 ocupa a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Egito e Jordânia assinaram acordos de paz com Israel em 1979 e 1994, respectivamente.

Nos países do Golfo, porém, a reação aos acordos, considerados pelos palestinos como uma “punhalada nas costas”, tem sido bem mais moderada.

Assim que o acordo de normalização entre Israel e os Emirados foi anunciado em 13 de agosto, surgiram divergências sobre a interpretação de seus termos. Para os Emirados, em troca deste acordo, Israel concorda “em encerrar sua política de anexação dos territórios palestinos”.

Mas o primeiro-ministro israelense garantiu que a anexação de áreas da Cisjordânia ocupada foi apenas “adiada”.

Da mesma forma, Netanyahu disse que se opõe, para preservar a superioridade militar de seu país na região, à venda aos Emirados dos caças F-35 americanos que Abu Dhabi deseja comprar.

– “Aprender a se conhecer” –

Para os especialistas, todas as partes estão “aprendendo a se conhecer”, o que também implica reclamações e mal-entendidos.

“São culturas sociais e políticas muito diferentes”, aponta Barbara Leaf, embaixadora dos Estados Unidos em Abu Dhabi até 2018 e agora pesquisadora do The Washington Institute for Near East Policy.

“Agora eles vão se encontrar e vai ser algo interessante de assistir”, diz.

À medida que as partes se dirigem a esses territórios inexplorados, o arcabouço dos acordos firmados na Casa Branca definirá as áreas de cooperação, segundo Moran Zaga, especialista em Golfo da Universidade de Haifa, em Israel.

“Vamos assistir a um desenvolvimento espetacular em quase todas as áreas”, acredita a especialista, que cita “ciência, cultura”, além de intercâmbio comercial e diplomático.

“Não se fala de paz há 25 anos, é uma palavra que não se ouve muito desde que nasci. Os israelenses estão ansiosos para ouvi-la de novo (…) e isso lhes dá um sentimento de esperança”, acrescenta Zaga.